Por Júlia Molfi

O filme “Conclave”, do diretor Edward Berger, vem ganhando destaque pelo seu enredo polêmico. Ao retratar a igreja católica de forma crua e honesta, o longa enfatiza o que não é mostrado ao grande público: as relações de poder que envolvem a hierarquia da igreja, além dos defeitos e opiniões de cada membro do conclave.

Com um elenco formado majoritariamente por homens, a personagem Irmã Agnes, interpretada por Isabella Rossellini, chama atenção por ser uma das poucas mulheres presentes no filme. Ela dá vida a uma silenciosa freira que trabalha durante o processo de eleger um novo papa, e é responsável por fazer os arranjos de vida dos cardeais. Sua participação no longa acontece de maneira contida, verbalizando apenas o necessário. Tudo muda quando ela se vê diante de um dilema moral envolvendo a integridade de outra freira e os mandamentos da igreja católica. 

Courtesy of Focus Features

Esse é um dos momentos de virada do filme, pois sua rebeldia inesperada choca tanto os cardeais, quanto o telespectador, uma vez que a figura da mulher no Vaticano muitas vezes é vista como inferior, e é posta em um lugar de subserviência. As freiras devotam suas vidas à religiosidade e à servidão à Deus. Entretanto, há uma linha tênue entre a devoção e a conivência – e é exatamente isso que o papel da Isabella Rossellini nos faz analisar. 

Após esse ato, Irmã Agnes reafirma sua posição, enquanto mulher e católica, em um lugar considerado apenas para homens. Além disso, mostra que é possível não se eximir de suas opiniões para obter um lugar de destaque e respeito. Em seguida, a freira recebe apoio de alguns cardeais, o que mostra um possível avanço nos ideais da igreja católica, por parte dos indivíduos liberais.  

Como visto no filme, a posição de papa é um grande jogo político, com dicotomias libertárias e conservadoras. Mas para além da ficção, este conflito também ocorre na vida real. O Papa Bento XVI, por exemplo, era considerado conservador, enquanto seu sucessor e atual soberano do Vaticano, Papa Francisco, é considerado o mais progressista da história da igreja. 

Sabe-se que o Papa Francisco tem tentado ampliar a participação feminina na hierarquia do Vaticano, visto que, para além de seus ideais considerados modernos, ele age na prática, nomeando mulheres para altos cargos na Santa Sé. Por fim, nota-se que há similaridades entre “Conclave” e o mundo real, e Isabella Rossellini desempenha um papel importantíssimo para representar isso de maneira fidedigna.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.