A Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação em Manaus (AM) na última quarta-feira (26) com o objetivo de combater o tráfico de seres humanos. O alvo central da ação foi a Associação Humanitária do Amazonas (Asham), suspeita de estar envolvida no envio ilegal de crianças e adolescentes indígenas para a Europa.

As investigações conduzidas pela PF apontaram que membros de uma organização criminosa de tráfico humano atuavam em São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, cooptando indígenas em situação de vulnerável. Essas pessoas eram forçadas a professar a religião islâmica, sendo que os suspeitos, de origem turca, visitavam uma comunidade rural do município para persuadir famílias a autorizarem o envio de seus filhos para estudarem na Turquia, um país muçulmano.

Os jovens eram então levados de São Gabriel para Manaus, onde eram doutrinados na Asham e submetidos a condições de servidão. Posteriormente, eram levados para São Paulo, onde passavam por mais imposições religiosas, recebendo novos nomes e sendo proibidos de mencionar os nomes antigos. A partir de São Paulo, eram enviados para a Turquia.

A Polícia Federal está em busca de descobrir a real intenção desse grupo religioso. Há suspeitas de que os indígenas poderiam ser explorados em trabalhos forçados ou até mesmo serem colocados a serviço de grupos criminosos.

Durante a operação, a PF resgatou 15 indígenas que estavam na sede clandestina da associação. Essa ação é um desdobramento da Operação Além-Mar, iniciada em 27 de fevereiro, quando a PF, juntamente com o Conselho Tutelar, resgatou 15 meninos e meninas indígenas e encontrou alimentos vencidos na associação, que operava sem autorização para abrigar crianças e adolescentes.

Recentemente, agentes da PF apreenderam o passaporte de um dos investigados, de origem turca, e cumpriram dois mandados de busca e apreensão, um na casa do investigado e outro na associação.

Desde então, cinco indígenas que haviam sido enviados para a Turquia através da Asham foram deportados por estarem no país europeu sem visto de permanência. Após passarem três semanas presos na Europa por conta da irregularidade, eles retornaram a São Gabriel da Cachoeira.

Nessa quarta-feira, a PF realizou a operação em conjunto com servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Conselho Tutelar, da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania, do Conselho Municipal de Assistência Social e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente.

Em nota, a PF enfatizou que “o tráfico de pessoas é um crime de alta complexidade, envolvendo fatores econômicos, sociais, culturais e psicológicos, e requer a colaboração de diversas instituições do setor público, bem como de toda a sociedade”. Além disso, a PF reiterou que o Estado brasileiro é laico, e a imposição de qualquer religião é proibida.

*Com informações do Jornal Em Tempo