Por Yasmin Henrique, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

O esporte paralímpico está cada vez mais voltado para a utilização de tecnologia para oferecer melhor suporte aos atletas com deficiência. Esse foco inclui não só o aprimoramento e a criação de equipamentos esportivos avançados, mas também um forte investimento na capacitação e desenvolvimento dos competidores.

Pesquisas aprofundadas sobre a dinâmica corporal, bem como os aspectos fisiológicos e psicológicos, são essenciais para melhorar o desempenho dos paratletas. A integração entre esporte, ciência e tecnologia demanda uma colaboração próxima entre o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), por meio da Academia Paralímpica Brasileira, e as instituições acadêmicas.

Entretanto, o elevado custo dessas tecnologias impacta também a iniciação esportiva. Organizações como o CPB, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e a Rede Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva estão liderando esforços para criar dispositivos acessíveis. Esses equipamentos de baixo custo são projetados para uso tanto no treinamento de atletas cadeirantes quanto em clínicas de fisioterapia e academias.

No Brasil, diversas iniciativas estão dedicadas ao avanço de dispositivos e equipamentos para o treinamento e avaliação de atletas com deficiência. Exemplos notáveis incluem o Laboratório de Inovação e Empreendedorismo em Tecnologia Assistiva, Esporte e Saúde (LIETEC) da Universidade Federal de São Carlos–SP e o Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva, localizado no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas–SP.

Integração humana e tecnológica

Atualmente, é comum ver paratletas utilizando próteses de membros inferiores mais sofisticadas que oferecem a possibilidade de um melhor desempenho. Estas próteses, dotadas de tecnologia em software e hardware, fornecem dados detalhados sobre a força de contato com o solo e possibilitam ajustes remotos na velocidade e no movimento do joelho, adaptando-se ao tipo de terreno onde o paratleta está competindo.

IAs características únicas de cada modalidade esportiva estimularam a criação de sistemas hidráulicos que imitam os movimentos humanos em provas de salto, protegendo as articulações e amortecendo os impactos. A colaboração interdisciplinar entre educação física, fisioterapia e engenharia de materiais levou a inovações como a lâmina de fibra de carbono utilizada nas próteses de corredores, que proporciona leveza e flexibilidade.

Infográfico sobre a tecnologia aplicada às próteses para competições de atletismo. | Foto: Reprodução/Gazeta do Povo

Gavin Williams, pesquisador do Instituto de Tecnologia Esportiva da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, observa: “A tecnologia evolui a cada Paralimpíada, mas são os paratletas que realmente determinam a conquista de cada medalha de ouro.”

Williams destaca que muitas inovações são discretas, não apenas devido às rigorosas regras das Paralimpíadas, mas também porque sua eficácia depende da forma como cada paratleta as utiliza. Segundo ele, as necessidades individuais de cada competidor são distintas, e as inovações tecnológicas devem se integrar de maneira ideal ao seu desempenho.

Os avanços mais recentes do esporte paralímpico

Nos últimos anos, os Jogos Paralímpicos têm visto um crescimento notável no uso de tecnologias digitais, ampliando-se além dos dispositivos físicos e incorporando inovações que elevam o desempenho mental e cognitivo dos paratletas. Ferramentas como interfaces cérebro-computador (BCIs) e sistemas de neuro feedback auxiliam os esportistas a aprimorar a concentração, gerenciar o estresse e otimizar suas funções cognitivas durante as competições.

As próteses e órteses de ponta são atualmente equipadas com sensores e atuadores que se ajustam automaticamente aos movimentos dos paratletas, proporcionando maior conforto e eficiência no desempenho. O design assistido por computador permite a personalização de equipamentos, ajustando-os à fisiologia específica de cada esportista. Além disso, inovações como dispositivos conectados por Bluetooth possibilitam ajustes em tempo real durante as competições, melhorando ainda mais o desempenho dos paratletas.

Cadeiras de rodas de alto desempenho estão sendo aprimoradas com materiais inteligentes e sensores digitais que monitoram a rotação das rodas e a pressão durante o movimento. Esses avanços permitem que as cadeiras se ajustem a diversos tipos de terreno, proporcionando maior estabilidade e eficiência.

O uso de análise de dados e sensores transformou o treinamento e a competição para atletas paralímpicos, oferecendo informações essenciais sobre desempenho e prevenção de lesões. Sistemas como o TritonWear, aplicado na natação, fornecem dados detalhados que possibilitam ajustes precisos nos treinamentos, adaptando-se às necessidades individuais de cada paratleta.

Aparelho da TritonWear | Foto: Divulgação/TritonWear

Além do feedback em tempo real, as ferramentas de análise de dados realizam uma avaliação do desempenho após os eventos, processando informações obtidas durante treinos e competições para fornecer visões detalhados e estratégias de prevenção de lesões. Essas tecnologias estão alavancando a ciência dos esportes adaptativos e possibilitam o treinamento remoto, mantendo a conexão entre paratletas e treinadores, mesmo à distância.