Indígenas guarani e kaiowá do MS prometem resistir ao Marco Temporal
Em depoimento emocionante, liderança clama por justiça Por Equipe de Comunicação do filme Coração da Terra De Aldeia Porto Lindo, Mato Grosso do Sul Reunidos ontem, 14, na terra indígena Yvy Katu, município de Japorã, fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, cerca de 2 mil indígenas guarani kaiowá organizaram manifestação contra o Marco […]
Em depoimento emocionante, liderança clama por justiça
Por Equipe de Comunicação do filme Coração da Terra
De Aldeia Porto Lindo, Mato Grosso do Sul
Reunidos ontem, 14, na terra indígena Yvy Katu, município de Japorã, fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, cerca de 2 mil indígenas guarani kaiowá organizaram manifestação contra o Marco Temporal – com votação prevista para amanhã, 16, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Três áreas indígenas não demarcadas serão julgadas pelo STF, sendo elas o Parque Indígena do Xingu (MT), a Terra Indígena Ventarra (RS) e terras indígenas dos povos Nambikwara e Pareci. A decisão do supremo terá consequências no chamado “marco temporal”. Se aprovada, a proposta definirá que os diretos territoriais dos indígenas garantidos na constituição, só se aplicarão aos povos que estavam em suas terras na data da promulgação, em 5 de outubro de 1988.
A tese coloca em cheque diversas terras indígenas ainda não demarcadas ou homologadas, podendo acirrar ainda mais os conflitos nos territórios. É o caso dos guarani kaiowá de Yvy Katu, expulsos de suas terras em 1928 no período da colonização da região do cone-sul do Mato Grosso do Sul – como relatados em estudos da Funai.
Mais de 50 anos passaram-se até a retomada realizada pelos indígenas em 2003 como forma de pressionar o estado brasileiro na demarcação e homologação de suas terras. Apesar da demarcação ter sido aprovada em junho de 2005 pelo Ministério da Justiça, a homologação permanece congelada até hoje, pairando o risco do conflito iminente. Ordens de despejos, ameaças de morte, assassinatos e a negação constante dos direitos originários fazem parte da vida dos guarani kaiowá da região de Japorã.
Corpos encontrados
Em julho do ano passado, os indígenas Fábio Vera, 37, e Gabriel Martinez, 35 anos, oriundos da aldeia Porto Lindo, foram assassinados e seus corpos ficaram desaparecidos até o início de agosto deste ano.
Os indígenas saíram de Yvy Katu para pescar no rio Iguatemi e não foram mais vistos. Os corpos foram encontrados enterrados na fazenda Dois Irmãos, após familiares indígenas terem sonhado e recebido revelações através do sonho sobre o local onde os indígenas foram escondidos. Junto aos corpos, cartuchos de escopeta calibre 12 também foram localizados.
Após encontrar as vítimas, o delegado Thiago de Lucena e Silva, pediu a prisão temporária do ex-capataz da fazenda, Arlindo Cardoso Silva, 37 anos, suspeito de matar os indígenas. O pedido foi acatado pela justiça e Arlindo está foragido até o momento.
Um clamor por justiça
Uma das lideranças de Yvy Katu – que prefere não se identificar por questões de segurança – deu um depoimento emocionante no ato realizado ontem, terça-feira. Ao lado de diversas crianças indígenas guarani kaiowá, a liderança fez um clamor por justiça em nome de todos os povos indígenas do Brasil.
“Em nome do povo indígena do Brasil eu quero falar para sociedade brasileira e para o mundo, quero falar pro mundo… que nós aqui da Yvy Katu, aldeia Porto Lindo, nós estamos firmes, confiantes… que Nhaderu que tá lá em cima vai votar pra nós, pra essas crianças, que o marco temporal não vai ser aprovado. Senhores autoridades estão vendo essas crianças que são nosso futuro gerações, pra quê que vamos ter que enterrar vivo, vocês sociedade brasileira tem que ter vergonha na cara, de dar esperança pra essas crianças que tá vivo…”