Indígenas da Panamazônia expõem mapa da exploração: “desenvolvimento para quem?”
“Não tem planos para a vida das pessoas no território amazônico, o que se tem é um mapa de exploração”, desabafa representante do MAB
Graziella Albuquerque, para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26
Na programação da COP26 desta semana, acontece a Cúpula dos Povos, que conta com uma série de reuniões que denunciar impactos e violações de direitos aos povos diretamente afetados pelo modelo desenvolvimentista, assim como as degradações em ecossistemas e a expansão da violência em seus territórios. Compartilhando experiências, os participantes pensam em estratégias de resistência.
Nesta segunda-feira (8), foi realizado um encontro com o tema “Resistência de baixo à desapropriação e destruição territorial na Amazônia”, que contou com a participação de líderes indígenas do Brasil, Peru e Guiana. Eles compartilharam experiências de assaltos às suas terras, cultura e vidas, bem como a resistência que estão tendo frente aos projetos extrativistas invasores.
Os governos, junto de iniciativas privadas, têm aumentado a incidência de violência nos territórios, levando a situações apresentadas pelos palestrantes como invasões de terras, agronegócios, extração ilegal de madeira e mineração, expansão de narcóticos, extração de petróleo e gás, megaprojetos de infraestrutura e projetos de conservação colonial excludentes.
Segundo um dos palestrantes, Kokoi Guyana, representante do grupo indígena Wapichan, do sul da Guiana, na maior parte, ou em todas as concessões da região, não foram consultados os moradores, não houve consentimento por parte deles antes da aprovação dos projetos. “Os estados precisam respeitar o consentimento das nações indígenas por decisões que afetam suas vidas, somos pessoas como todos”, disse ele.
Kokoi denuncia que o governo da Guiana é responsável, em grande parte, pela desapropriação de terras indígenas, pois encorajam projetos do agronegócio vindos do Brasil, principalmente de milho e soja, levando à uma invasão agressiva das terras. Essas indústrias têm forte impacto destrutivo para os territórios indígenas, pois sua subsistência depende dos recursos locais. Tais atividades desmatam grande parte de suas terras e poluem as águas dos rios, levando à mortandade de peixes, e deixando-as impotável, afetando diretamente sua soberania alimentar e sobrevivência.
Kokoi Guyana contou que a comunidade realizou uma pesquisa para analisar o nível do mercúrio em 4 comunidades, em 1 delas ocorria mineração, e o resultado foi que nas mulheres a contaminação estava acima de 60% do que é permitido por lei.
Miguel Guimarães, vice-presidente da Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Floresta Peruana (AIDESEP), no Peru, afirmou que seus líderes vêm sendo assassinados por defender a floresta. Miguel, questiona como os fundos disponibilizados para os governos durante a COP26 terão impacto nas comunidades locais, afinal, mesmo o governo peruano tendo assumido compromissos em COPs anteriores, pelo menos 20 milhões de hectares de terras indígenas ainda permanecem sem título e a violência só se intensificou ao longo dos anos.
Ameaças no Brasil
Frede Renero, do Movimento de Pessoas Atingidas por Barragens, uma organização nacional, em 24 estados, que faz resistência contra barragens e grandes projetos de alto impacto local, apresenta um termo chamado “ciclos de destruição”, que segundo ele, toda a riqueza que contém nesse território já foi mapeada e está sendo explorada, hidrelétricas, hidrovias, portos, mineração e diversos outros empreendimentos.
“Não tem planos para a vida das pessoas no território amazônico, o que se tem é um mapa de exploração de bases naturais, mas não há nada para melhorar a vida das pessoas que vivem ali”. Frede Renero afirma que os projetos da região amazônica não são voltados para a vida das pessoas, e questiona “Desenvolvimento para que e para quem?”.
Por fim, o apelo das lideranças indígenas da região amazônica é para que toda a comunidade internacional apoie as causas desses povos e ajude a pressionar os governos para que os compromissos assumidos nessa COP incluam e respeitem os povos indígenas, ribeirinhos, camponeses, quilombolas e todos demais indivíduos da comunidade e o meio ambiente.
À ocasião, foi exibida websérie sobre a expansão do agro no rio Tapajós, que você confere a seguir:
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