Indígena Uru Eu Wau Wau é assassinado em Rondônia
Violência e pandemia avançam contra indígenas no estado. Professor da aldeia foi encontrado morto e já havia relatado a ameaças por madeireiros na região.
Por Iara Peres para Mídia NINJA
Na manhã deste sábado (18) mais um indígena foi encontrado morto no estado de Rondônia. O corpo do jovem Ari Uru Eu Wau Wau, que era um dos professores na comunidade, foi encontrado na Estrada Vicinal Linha 625, no distrito de Jaru (RO), a poucos metros da entrada da aldeia. Este é o segundo assassinato de lideranças indígenas em menos de 20 dias. O professor Zezico Guajajara, que também era uma das lideranças que lutava pela proteção do território do seu povo foi brutalmente assassinado no Maranhão no dia 31 de março.
De acordo com um levantamento do Instituto Socioambiental (ISA), em 2019, a área dos Uru-Eu-Wau-Wau esteve entre os 13 territórios que respondem por 90% do desmatamento em terras indígenas na Amazônia brasileira. Ari também integrava o grupo de vigilantes e protetores do território do seu povo e, segundo parentes, já havia comunicado o Ministério Público Federal (MPF) que sofria há alguns meses constantes ameaças de morte por grileiros e madeireiros da região.
Em contato com o MPF de Rondônia sobre a morte do jovem, a assessoria informou que o caso ainda será distribuído entre os procuradores para investigação. De acordo com o delegado regional de Jaru (RO), Rodrigo Spiça, as providências preliminares para instauração do decreto já foram determinadas. “Tudo indica que se trata mesmo de um homicídio pois a vítima apresentava lesões na cabeça, não características de queda de motocicleta”, revela. Ainda segundo o delegado, o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) no município de Ariquemes (RO) e deve ser divulgado em 10 dias.
Aumento da violência
Com o avanço da Covid-19, grileiros e madeireiros intensificaram os ataques as terras em Rondônia, tendo em vista o foco de autoridades e da grande mídia em assuntos que permeiam a pandemia. As invasões ampliam o contágio dos povos com o vírus, o que pode ocasionar uma situação de colapso na região. Em nota publicada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) a organização reforça o aumento da violência contra indígenas.
“Não estamos expostos apenas ao corona vírus, os crimes cometidos por madeireiros, garimpeiros e grileiros seguem intensos violando nossos direitos e destruindo nossa natureza.”, afirmam em nota.
Para a coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, o povo Uru Eu Wau Wau está num clima de tensão crescente. “A região vive uma enorme pressão e há algum tempo não há fiscalização. Agora, com o corona vírus, a atuação das autoridades deveria ser intensificada”, alerta a coordenadora que, juntamente com a Associação do Povo Indigena Uru Eu Wau Wau Ujupaú, já apresentou várias denúncias ao MPF de Rondônia desde o início do ano.
Além da luta contra o avanço da pandemia, os povos tem, desde o ano passado, sofrido com os atos crescentes de violência. De acordo com dados apurados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) no último ano, 9 indígenas foram assassinados, sendo 7 deles lideranças locais. Esse índice é o maior nos últimos 11 anos. Ainda segundo o caderno de conflitos, a cada três famílias em luta por terra, uma é indígena, somando 49.750 famílias indígenas.
Em alguns confrontos na região de Jaru, indígenas Uru Eu Wau Wau confirmam que são intimados por grileiros, que alegam estarem agindo legalmente, de acordo com as diretrizes do governo de Jair Bolsonaro.
Covid-19 e os povos indígenas
A Associação Kanindé, com o apoio do Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI) e a Fundação Nacional do Índio (Funai), tem coletado produtos de higiene e limpeza para ajudar no combate ao coronavírus ao povo Uru Eu Wau Wau.
Dados divulgados na última semana pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), o número de casos de indígenas infectados pelo o novo corona vírus disparou e teve um aumento de mais 156% na última semana. No total, segundo a Sesai, o número cresceu de 9 para 23 registros de contaminados desde a última segunda-feira (13).