Os impactos da crise do clima já afetam a nossa saúde e nossa qualidade de vida, como pudemos sentir tanto em 2023, com as grandes secas, quanto em 2024, com os números recordes – e ainda crescentes – das queimadas.

Contudo, cientistas alertam para um dos grupos que podem ser ainda mais vulneráveis diante dessa nova era climática: os idosos.

Mas, o que torna esse grupo mais vulnerável?

De acordo com a pesquisa “Global projections of heat exposure of older adults” (Projeções globais de exposição ao calor de adultos mais velhos em tradução livre) publicado na Nature Communications no início deste ano, os aumentos na intensidade, duração e frequência de ondas de calor representam ameaças diretas à saúde física e ao risco de mortalidade, com consequências especialmente graves para os idosos, dada sua maior susceptibilidade à hipertermia e às condições comuns de saúde agravadas pela exposição ao calor, como doenças cardiovasculares.

“O nosso corpo é uma máquina, que está sujeita ao desgaste. Os anos vão fazendo com que todos os mecanismos de regulação fiquem menos eficientes. Existe um processo de perda funcional que acompanha o nosso corpo a partir da terceira ou quarta década de vida, que chamamos perda da capacidade intrínseca do nosso organismo”, explicou Luiz Roberto Ramos, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e diretor-fundador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, para o Estadão.

Em idades mais avançadas nosso corpo funciona de maneira diferente: os idosos sentem menos sede, o que pode fazer com que tomem menos água, sofrendo assim com desidratação, uma situação que, por si só já seria grave mas que, com os impactos das altas temperaturas e calor extremos, pode se tornar ainda mais perigoso.

Além disso, é comum também observar que as pessoas idosas suam menos, contudo, sendo o suor um mecanismo natural do corpo que ajuda na regulação da temperatura, ele é imprescindível para enfrentar ondas de calor, por exemplo.

E as projeções não são somente para os idosos de agora, mas sim para os idosos no futuro: a pesquisa mostra que quase um quarto da população idosa mundial poderá estar vivendo em áreas de calor excessivo [o limiar crítico considerado pela pesquisa é uma temperatura máxima de 37,5°C] até a metade do século. A previsão é que em 2050 sejam quase 250 milhões de idosos vivendo em um planeta grassado pelos efeitos da crise climática.

A Década do Envelhecimento Saudável

Felizmente, movimentos já estão sendo feitos para ajudar a prevenir e melhorar a qualidade de vida dos idosos diante da crise climática.

Ainda este ano, o grupo “Vovós pelo clima” ganhou, em uma decisão histórica, uma importante ação contra o governo suíço no Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECHR, sigla em Inglês), onde argumentaram que os esforços do governo de seu país contra a crise climática foram insuficientes para protegê-las de ondas de calor mais frequentes e intensas, prejudicando sua saúde e as colocando em risco de morte.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o terceiro relatório da Década do Envelhecimento Saudável, celebrada entre 2021 e 2030. O novo documento destaca como a saúde e o bem-estar dos idosos são afetados pelas mudanças climáticas e identifica oportunidades para reunir as agendas.

A iniciativa global reúne os esforços dos governos, da sociedade civil, das agências internacionais, das equipes profissionais, da academia, dos meios de comunicação social e do setor privado para melhorar a vida das pessoas idosas, das suas famílias e das suas comunidades.

A campanha tem quatro frentes de ação: Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento; Garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; Entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde centrados na pessoa e adequados à pessoa idosa; Propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem.

A crise climática já é uma realidade para todas as pessoas, contudo, o mesmo problema nos afeta de forma diferente, por isso, é fundamental garantir o cuidado daqueles que estão mais vulneráveis diante deste problema.