Imigrantes se mobilizam em ato nas ruas de Paris
“Nós estamos em perigo. Nós não somos perigosos!”, gritam os “sans-papiers” todas as sextas-feiras nas ruas de Paris.
Texto por Nanda Mrzo para Mídia NINJA.
“Se passaram 3 anos desde que sai do Mali até chegar na França! Tentei 9 vezes atravessar o mediterrâneo, e consegui na última tentativa. Já perdi 2 tias as quais nunca mais vou rever.”
Essa é a história de Mahamadou Traoré, um jovem africano, que assim como tantos, migrou de seu país em busca de refúgio de uma guerra política, racista e de herança colonial.
A história individual de Mahamadou Traoré reflete a de milhares de imigrantes políticos, filhos de gerações que mantiveram um laço estreito com a França, trabalhando pelo país desde a segunda guerra mundial, pela qual lutaram e formaram parte de seu exército. Quando conseguem atravessar o mar mediterrâneo, que se tornou um grande cemitério de corpos africanos, esses imigrantes se deparam com o destino de um “sans-papiers”. Após seguirem com protocolos burocráticos que impedem a sua regularização, eles continuam suas trajetórias condenados a viver 10, 20 ou mesmo 40 anos sem ter o tão sonhado “titre de séjour”, documento que permite que um imigrante trabalhe e habite o território francês de forma regular.
Mas os “sans-papiers” seguem trabalhando diariamente. As mulheres faxinam dos hotéis mais simples aos mais luxuosos de Paris, nos Champs-Élysées. Os homens, em construções, trabalham limpando vidros, carregando peso em galpões. A grande maioria tem seu contrato de trabalho assinado e paga seus impostos, mas não tem seus direitos reconhecidos e segue na precariedade sem acesso ao sistema de saúde ou ao seguro-desemprego. Eles moram em “foyers”, locais de habitação coletivos, onde vivem amontoados e em condições desumanas.
“Nós estamos em perigo. Nós não somos perigosos!”, gritam os “sans-papiers” todas as sextas-feiras nas ruas de Paris. E apesar de se encontrarem em uma grande precaridade, pois onde demandam asilo, encontram discriminação, estigmatização e marginalização social, os “sans-papiers” se organizam e lutam diariamente. Eles exigem a regularização coletiva de todos. Mahamadou Taroré segue entre eles: “o primeiro passo depois de toda essa viagem é que eu consiga os meus papéis!”.
A equipe do Mídia NINJA cobriu uma de suas manifestações e encontrou o porta-voz do coletivo de “sans-papiers” de Paris, Sr. Anzoumane Sissoko, que após uma longa trajetória “sem papel”, hoje é cidadão francês, eleito da prefeitura do XVIII Distrito de París, e segue diariamente em luta solidário à causa.