Ilhas verdes: 92% do desmatamento na Amazônia está no entorno de Terras Indígenas
A ameaça ao redor dos territórios indígenas na Amazônia é crescente e representa uma questão crítica
A ameaça ao redor dos territórios indígenas na Amazônia é crescente e representa uma questão crítica
Na região próxima à Terra Indígena Karipuna, localizada entre os municípios de Porto Velho, Nova Mamoré e Buritis, em Rondônia, uma área equivalente a 278 mil campos de futebol, maior que a capital de São Paulo e que 96% das cidades do Sudeste, foi desmatada. Esse desmatamento contrasta de forma alarmante com a natureza praticamente intocada dentro da demarcação. A pressão, no entanto, ultrapassa as cercas, à medida que invasões para grilagem e extração ilegal de madeira multiplicaram a devastação interna nos últimos anos, aumentando de 6 km² para 71 km², cerca de 5% da área total.
A ameaça ao redor dos territórios indígenas na Amazônia é crescente e representa uma questão crítica. No centro desse cenário está a votação sobre a tese do marco temporal, que será retomada pelo Supremo Tribunal Federal. As reservas indígenas estão se tornando as últimas barreiras ao avanço do desmatamento, já que mais da metade da vegetação nativa no entorno de 36 unidades de conservação da Amazônia já foi destruída, chegando a impressionantes 92% nas bordas da reserva Sororó, em São Geraldo do Araguaia (PA), a uma distância de 10 km dos limites das terras.
A análise dos dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até 2022 revela que as áreas indígenas são as mais preservadas na Amazônia, representando um quarto do bioma e perdendo apenas 1,5% da vegetação primária. No entanto, a expansão das atividades agropecuárias e ocupações urbanas em direção à floresta está criando ilhas verdes em territórios indígenas, cercados principalmente por pastagens e lavouras. Garimpo, exploração madeireira e grilagem são vetores adicionais de pressão.
Especialistas alertam que a aceleração do desmatamento, incentivada pela insegurança jurídica e pela fragilização das garantias de proteção do Estado, pode reverter o cenário de conservação ambiental nas áreas indígenas. Essa situação tem sérias implicações no contexto da crise climática, uma vez que as terras indígenas armazenam grandes quantidades de carbono e desempenham um papel vital na regulação da temperatura e na formação de nuvens, impactando até mesmo a produção de commodities agrícolas que dependem da chuva.
*Com informações da Folha