IBGE 2022: A população do semiárido despencou, e mudanças climáticas podem ser o motivo
Para pesquisador da Ufal, ações climáticas, secas acumuladas e perda de vegetação impulsionam agricultores a abandonarem áreas degradadas em busca de áreas férteis
O Semiárido Brasileiro se estende pelos nove estados da região Nordeste e também pelo norte de Minas Gerais. No total, ocupa 12% do território nacional e abriga cerca de 28 milhões de habitantes divididos entre zonas urbanas (62%) e rurais (38%), sendo, portanto, um dos semiáridos mais povoados do mundo. Mesmo assim, em comparação com a média nacional, entre 2010 e 2022, a população cresceu 3,7% na região, abaixo da média brasileira que foi de 6,5% no mesmo período, de acordo com último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Dos 1.262 municípios no semiárido, 644 (51%) perderam população nesses 12 anos. É uma porcentagem maior do que a média nacional, já que 43% dos municípios (2.399) encolheram em população desde 2010. Por outro lado, 606 cidades no semiárido tiveram crescimento (48%), o que pode indicar uma migração interna na região — só 12 municípios ficaram estáveis no número de habitantes.
É nessa região que estão 18 dos 20 municípios com maior percentual de residências fechadas de forma permanente. Na última década, a região sofreu a sua maior seca em 100 anos, com a destruição de plantações e a morte de animais, o que pode ser a causa da evasão.
“O Nordeste é marcado historicamente pela perda de população, não é um fenômeno novo. Apesar do crescimento e ampliação dos programas de transferência de renda, fatores microeconômicos e macroeconômicos relacionados a esses municípios ajudam a entender a emigração na perspectiva de massas”, avalia Járvis Campos, professor da UFRN e coordenador do Comitê de Projeções e Estimativas Demográficas da Associação Brasileira de Estudos Populacionais.
A última década de seca deixou marcas profundas que ajudam a explicar a queda de população nos municípios que têm vocação rural, analisa Humberto Barbosa, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e um dos autores do livro “Um século de seca”. Segundo ele: “A desertificação e as secas limitaram os rendimentos na agropecuária familiar, e a juventude rural fica sem perspectivas para sobreviver da agricultura. Isso aumenta a migração.”
Para o pesquisador, estudos mostram que o Nordeste está ficando ainda mais seco, e as mudanças climáticas tendem a agravar a situação. A degradação ocorre pela perda da vegetação causada pela ação humana.
“Há também uma ação climática, as secas acumuladas que intensificam a perda de vegetação e de fertilidade. Com isso, o agricultor abandona áreas degradadas em busca de áreas férteis”, avalia.
É importante ressaltar que a diminuição da população em uma região pode ter impactos negativos em diversos aspectos, como na economia local, na oferta de serviços públicos, na dinâmica social e cultural, entre outros. Por isso, é fundamental que medidas sejam tomadas para entender as causas dessas variações populacionais e buscar soluções para manter ou aumentar a população dos municípios que apresentaram queda.
Com informações do UOL.