Por João Pedro Lima

O filme “O Brutalista” do diretor Brady Corbet que está indicado em mais de 10 categorias ao Oscar de 2025 gerou polêmica na mídia após a produção do filme assumir o uso de Inteligência Artificial em sua pós-produção. O longa que é protagonizado por Adrien Brody conta a história de um arquiteto hungaro chamado László Toth que foge da europa pós segunda guerra e chega aos Estados Unidos para recomeçar sua vida até que um rico e proeminente industrial reconhece seu talento.

Mas afinal, a IA é capaz de atuar? Atualmente as tecnologias de Inteligência Artificial estão sendo cada vez mais inseridas dentro do cotidiano das pessoas ao redor do mundo, e na indústria do entretenimento o impacto gerou bastante repercussão. A primeira vez que o termo inteligência artificial foi usado ocorreu em 1956 por John Mccarthy, um cientista da computação, que utilizou essa denominação para definir o primeiro modelo computacional para redes neurais. Após quase 70 anos desde essa primeira menção a IA segue fazendo parte da vida humana inclusive já virou tema para filmes clássicos como: O Exterminador do Futuro de 1984 e 2001: Uma Odisseia no Espaço de 1968.

O Exterminador do Futuro, de James Cameron (1984) | Foto: Divulgação

Nos últimos anos a conversa sobre Inteligência Artificial voltou a ficar em alta devido ao lançamento do Chat GPT, uma tecnologia desenvolvida pela empresa Open IA e que funciona como um chat de conversação capaz de gerar conversas casuais, redações, pesquisas e códigos complexos. A repercussão da entrada de novas plataformas de AI resultou em uma das maiores greves da história na indústria cinematográfica no ano de 2023.

Foram mais de 150 dias em que diversas classes da produção cinematográfica paralisaram seus trabalhos e foram às ruas exigindo a regularização do uso dessas tecnologias pelos estúdios, inclusive segundo o jornal “LA Times”  foi um dos pontos mais desafiadores para o encerramento da greve uma vez que nem o sindicato nem os estúdios queriam ficar limitados em um cenário que pode mudar em poucos anos.

Certamente após essa panorama histórico fica evidente as motivações que geraram polêmicas sobre o “O Brutalista” pois há pouco mais de dois anos atrás grande parte da indústria se reunia para lutar contra o avanço das IAs dentro de suas produções. Afinal como lutar contra a replicação autêntica de vozes, rostos, movimentos de um ator real que agora torna o trabalho de artistas, atores e roteiristas completamente obsoleto diante de tecnologias avançadas.

Foto: Divulgação

Recentemente em entrevista ao site “Red Shark News” o montador David Jancsó responsável pela edição do longa metragem supracitado confessou o uso do software de IA “Respeecher” para modificar as vozes dos atores Adrien Brody e Felicity Jones em cenas onde eles realizam falas em hungáro visando aprimorar seus sotaques. Além de alteração nas vozes, o editor confirmou que desenhos arquitetônicos utilizados no final do filme também foram gerados por programas de IA.

Grande parte da discussão está pautada no fato de que o Oscar é um momento de celebração da sétima arte e dos artistas que compõem as mais diversas áreas dessas produções e como se pode comparar performances sem IA com performances modificadas por tecnologia. Ademais, Adrien Brody e Felicity Jones que tiveram suas atuações “melhoradas” estão concorrendo na categoria de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante na 97ª edição do Oscars. 

Foto: Divulgação

Em síntese é no mínimo controverso quando refletimos sobre a introdução das inteligências artificiais nas produções cinematográficas pois elas são capazes de replicar e automatizar processos criativos os quais teoricamente deveriam ser genuinamente humanos. A ingenuidade por parte dessas produções é pensar que seus trabalhos não são substituíveis quando na verdade em nossa realidade atual ninguém está imune das mudanças trazidas pelas IAs. Será que um dia haverá no Oscar uma categoria para melhor roteiro original produzido artificialmente? Provavelmente nos resta torcer para que as IAs de nosso mundo sejam diferentes da maléfica Skynet do mundo de “O Exterminador do Futuro”.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.