Homens tentam barrar mulheres de jogarem futebol e elas respondem à altura
Em plena Copa do Mundo Feminina, percebemos que é cada vez mais necessário continuar a luta por espaço e respeito. As mulheres vão continuar jogando bola sim, e se reclamar toma drible.
Por Isabelly Melo / Copa FemiNINJA
Na terça-feira (02) desta semana, um grupo de mulheres que se unem para jogar futsal em quadras pública de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, passou por uma situação clara de machismo.
A representante da Minas Gerais Associação Feminina de Futebol e Pagode, Nuala Lobo, disse que um grupo de homens que estava no local descumpriram um acordo feito previamente com as duas partes, e se negaram a sair de quadra para que as mulheres pudessem jogar. “Quando chegamos no parque, entre às 16h30 e 17h, já havia um grupo de minas e um grupo de manos em quadra. Perguntamos como funcionava, elas nos explicaram que a regra era 2 gols ou 10 minutos, e o time que perdesse saia. Se terminasse empatado saiam os dois times e entrariam outros dois. Esperamos a nossa vez, entramos em quadra contra um time masculino, ganhamos e jogamos contra o time das minas que já estavam lá. […] Em certo momento perdemos para os caras e saímos de quadra. Eles também fizeram partidas seguidas e sugerimos fazer duas partidas deles, duas partidas nossas”, começa ela.
Mas não parou por aí. “Eles sugeriram que fossem três para cada, nós topamos e ficamos fora da quadra esperando. Quando o último jogo terminou, um outro grupo de homens entrou em quadra e disse que nós não iríamos jogar porque a regra era quem perdesse saia e não interessava. Nós explicamos diversas vezes o acordo feito com os outros times, e que nós não iríamos mudar o combinado, alguns caras, com quem a gente tinha feito o acordo, fortaleceram a gente, mas os outros foram irredutíveis. Ainda tivemos que ouvir coisas como ‘não acredito que vocês vão sair de quadra pra essas minas jogarem’, sem contar as risadas durante a conversa”.
Mesmo com o acordo firmado entre as duas partes, as mulheres da Minas Gerais não conseguiram entrar em quadra como o combinado, e após muita discussão refizeram o acordo e chegaram a um meio termo em que fariam duas partidas só com as meninas e que a terceira seria quem ganhasse contra o time dos homens. Porém, quando voltaram para a quadra, três homens se negaram a sair do local e sentaram no chão afim de impedir a continuidade do jogo “Não ficamos acuadas e começamos o jogo mesmo assim, com a torcida incentivando e tendo que desviar de três marmanjos fazendo birra porque ‘perderam’ uma quadra pública para mulheres” disse Nuala. Após inúmeras tentativas de conversa, os três homens só saíram de quadra quando as meninas começaram a filmar.
Nuala relatou que esse não foi o primeiro problema enfrentado pelas mulheres da associação nas partidas, mas que até o momento foi o mais “pesado” e “inacreditável”. Ela ainda disse que durante a discussão, algumas pessoas afirmaram que um dos homens envolvidos é servidor público e trabalha no local, detalhe que só agrava a situação.
É triste e vergonhoso ver mais um caso de machismo dentro do futebol/futsal feminino. Em plena Copa do Mundo Feminina, percebemos que é cada vez mais necessário continuar a luta por espaço e respeito. As mulheres vão continuar jogando bola sim, e se reclamar toma drible.
Veja o post da Associação Feminina de Futebol e Pagode.
A Associação tem como objetivo encontrar mulheres que jogam bola e criar uma rede de apoio e empoderamento através do futsal. Jogar em praças e parques públicos foi a forma mais direta de atingir esse objetivo. O próximo encontro será amanhã, sexta-feira (05), no Parque Tarsila do Amaral, a partir das 16h30. Se você é de Campo Grande, gosta de jogar bola ou só quer apoiar a iniciativa das minas, compareça e ajude na construção de uma sociedade menos machista e mais empoderada.