Herança no esporte: fotógrafo alagoano representou o Brasil em exposição nas Olimpíadas de Paris
Paulo Accioly, único brasileiro a integrar a exposição fotográfica no Parque Urbano durante as Olimpíadas de Paris.
Por Milenna Alves, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
O Parque Urbano La Concorde foi a casa das modalidades de skate, breaking, basquete 3×3 e BMX nos Jogos de Paris e também o palco de uma exposição fotográfica que retratou a herança no esporte.
No coração de Paris, o artista alagoano Paulo Accioly foi o único brasileiro a integrar a exposição, que contou com sete fotógrafos franceses. A participação veio por meio de uma seleção realizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que selecionou artistas de todo o mundo em busca de trabalhos que retratavam grandes histórias herdadas através do esporte, nas modalidades que competiam no Parque Urbano.
A exposição foi mais uma iniciativa dos organizadores dos Jogos de Paris para celebrar a união, a arte e a cultura, pilares das modalidades urbanas disputadas em La Concorde. Para retratar os laços que o esporte pode proporcionar na vida de alguém, o fotógrafo escolheu como seus personagens a jovem skatista alagoana, Karolzinha, que não esteve competindo em Paris, mas é uma das promessas do skate street nacional, e seu pai, Bob, grande responsável pela paixão da filha pelas pistas.
“A Karol começa a andar de skate porque o pai, o Bob, usou o skate como uma forma de sair de uma vida complicada onde ele precisava de um refúgio e esse refúgio foi o skate. E assim o skate passou a ser uma herança de família passada de pai para filha e hoje, a Karol também deixa uma herança para cidade de Maceió como uma inspiração para as novas gerações do esporte”, declarou Paulo Accioly em entrevista ao NINJA Esporte Clube.
A relação familiar entre Karolzinha e Bob é a materialização do esporte como herança, e através de suas lentes, Paulo buscou diversas maneiras de construir a série fotográfica que conta essa história. Desde a escolha do material à edição final, cada detalhe tem sua simbologia.
“Eu usei uma câmera analógica e um filme muito usado no fotojornalismo, um filme preto e branco com o grão bem presente. Obviamente eu tinha a oportunidade de usar um equipamento digital, mas eu queria imprimir no meu processo criativo a mesma “dificuldade” que a Karol como atleta tem no processo dela. Apesar das condições da cidade, apesar do que ela tem de acesso à pista de skate, apesar de tudo ela chegou em um campeonato mundial, ela é vice-campeã sul-americana, então apesar das circunstâncias ela chegou extremamente longe.”, destacou Paulo ao NEC.
Ele continua ao explicar como a vivência da sua protagonista o fez refletir sobre sua caminhada enquanto profissional:
“Ser artista em Alagoas é ser artista apesar das condições. Então eu quis usar a fotografia analógica que vai me colocar obstáculos que metaforicamente a Karol também passou como atleta para poder chegar onde chegou. Era essa a ideia da gente percorrer um caminho parecido para chegar a um lugar que a gente almeja”.
Paulo também destaca o sentimento de levar para o mais importante evento esportivo do mundo uma história tão marcante. Karolzinha começou a andar de skate na periferia de Maceió, no bairro onde cresceu e ao lado do seu pai e amigos. Representar por meio de imagens a vivência urbana e periférica do Nordeste do Brasil nas Olimpíadas significa para Paulo o verdadeiro espírito olímpico.
“É diferente estar aqui, a gente ouve muitas histórias de como a Olimpíada fala mais do que o esporte. E ser mais que o esporte é usar dessa ferramenta para salvar a vida da sua família, para unir, para mudar de vida, e o mais bonito desse projeto foi ver como as pessoas leem o Brasil nas imagens, claramente era uma estética diferente das outras fotografias. Aquele conjunto de símbolos não era a Europa, era outro universo, mas não porque era pior, mas porque era diferente”, enfatizou o artista ao NEC.
O Parque Urbano La Concorde foi construído para integrar as competições com o lado urbano de Paris e mais de 25 mil pessoas eram esperadas diariamente no espaço. E através da exposição Herança no Esporte, o mundo todo pode conhecer a relação de Karolzinha e Bob com o skate e suas inúmeras lições.