Com uma trajetória marcada pela guerra, recursos limitados e hostilidade masculina, a palestina alcançou o topo na arbitragem

Foto: Bildbyran / Icon Sport

Por Lathara Veríssimo

Pela primeira vez, a FIFA escolheu uma mulher palestina para arbitrar uma Copa do Mundo. Heba Saadieh, de 34 anos, é árbitra internacional, com reconhecimento da FIFA, desde 2016. Essa conquista é um grande símbolo para o futebol palestino e para todas as mulheres que almejam chegar a esse posto.

Apesar do evento, que está sendo realizado na Nova Zelândia e na Austrália, ser sua primeira Copa do Mundo, a árbitra já possui um currículo impressionante. Nos últimos anos, participou de eventos expressivos como a Women’s AFC Cup and Asian Cup games, as Eliminatórias da Copa do Mundo e, em 2020, as Olimpíadas de Tokyo.

Ela construiu sua carreira muito cedo, pois sempre foi apaixonada por esportes e seu sonho era representar o seu país, no futebol. Saadieh é formada em Educação Física, pela Universidade de Damasco (Síria), país no qual viveu grande parte de sua vida e onde se tornou árbitra.

Após o início da Guerra da Síria, ela se mudou para a Malásia, país no qual participou do Programa de Arbitragem da Associação de Futebol da Malásia, em 2012. Lá, ela encontrou grandes dificuldades para treinar. Por algum tempo, fazia tudo por conta própria, improvisando locais de treino e gastando, muitas vezes, mais dinheiro do que recebia. Segundo ela, no país, havia apenas cerca de duas ou três árbitras femininas, e ela só trabalhava em jogos masculinos, sofrendo muita hostilidade por ser mulher.

Em seguida, mudou-se para Estocolmo e foi nessa época que recebeu o distintivo de arbitragem internacional pela FIFA. A mudança de continente foi difícil pela diferença de cultura e por ter que retornar aos jogos das categorias mais baixas. Mas, aos poucos, conquistou lugar na liga feminina principal e, também, na primeira divisão do futebol masculino da Suécia.

Foto: Trend Detail News

Fazendo história na Ásia

A motivação de Saadieh surgiu em 2010, período em que era universitária. Após não ver nenhuma mulher treinando junto a um grupo de árbitros, ela perguntou a eles o motivo dessa ausência. Os árbitros, então, sugeriram que Saadieh se juntasse ao grupo, e a palestina aceitou.

A partir daí, ela passou a ter um papel importante na arbitragem asiática. Em 2022, durante a AFC Women’s Asian Cup, fez parte da maior equipe de arbitragem feminina que já esteve no evento. Outro fato marcante foi que atuou, na final, com mais quatro árbitras australianas, compondo um time de arbitragem, exclusivamente, feminino, e isso só aconteceu outras duas vezes na história da competição.

Foto: The AFC

Em entrevista para o portal de notícias Al Jazeera, ela disse que está muito orgulhosa de seu trabalho e espera estar abrindo portas para outras mulheres e, também, para homens palestinos que tenham esse sonho. Mas, apesar de ter trabalhado, com dedicação, durante tanto tempo, para alcançar esse objetivo, ele não é o último. 

Preparação

Quem pensa que a rotina de um árbitro se resume aos 90 minutos de jogo está muito enganado. Na preparação para a Copa do Mundo, Saadieh precisou focar, exclusivamente, nos treinos e estudos técnicos para estar, fisicamente, apta aos splits, durante a partida. Segundo ela, durante um jogo, os árbitros correm, pelo menos, 6 km. 

Para a educadora física, esse é o maior desafio enfrentado pelas árbitras, pois a profissão exige treinamento contínuo. A melhor parte, segundo ela, é a oportunidade de conhecer diferentes culturas e locais.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube