Há 56 anos, estudantes realizavam a Passeata dos Cem mil contra a ditadura militar
Em 26 de junho de 1968, liderados pelo movimento estudantil, 100 mil pessoas marcharam no Rio de Janeiro contra a ditadura militar. Um marco pela democracia
Por Manoela Moura
Em 26 de junho de 1968, o Rio de Janeiro foi palco de uma das maiores manifestações populares da história do Brasil: a Passeata dos Cem Mil. Organizada principalmente pelo movimento estudantil, a passeata reuniu artistas, intelectuais e diversos setores da sociedade em um ato de repúdio à ditadura militar que governava o país desde 1964. Hoje, 56 anos depois, relembramos o impacto e a relevância desse evento na luta pela democracia.
A morte do estudante Edson Luís de Lima Souto, de apenas 18 anos, foi o estopim de uma série de manifestações contra o regime militar. Edson Luís foi assassinado pela Polícia Militar durante um protesto no restaurante universitário Calabouço, em março de 1968. Sua morte gerou uma onda de indignação e mobilizou estudantes em todo o país, que passaram a organizar manifestações cada vez maiores.
O contexto do ano de 1968 era de crescente repressão. Prisões arbitrárias e violência policial eram comuns, especialmente contra os estudantes que protestavam contra o regime. A tensão culminou em eventos violentos como a “Sexta-feira Sangrenta”, em 21 de junho, quando uma manifestação estudantil resultou em três mortos e mais de mil prisões. A repercussão negativa desses episódios forçou o comando militar a permitir a realização da Passeata dos Cem Mil.
No início de junho de 1968, o movimento estudantil, reunido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), intensificou a organização de novos protestos e reivindicou a libertação de estudantes presos. Em uma assembleia na UFRJ, 300 estudantes foram detidos, refletindo a brutalidade da repressão do regime. Mesmo assim, o movimento não recuou.
Na manhã do dia 26 de junho, milhares de manifestantes começaram a se reunir na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. Às 14h, a marcha teve início com cerca de 50 mil pessoas, número que dobrou em uma hora. A passeata seguiu pela Avenida Rio Branco em direção à Igreja da Candelária, onde o líder estudantil Vladimir Palmeira fez um discurso, lembrando a morte de Edson Luís e exigindo o fim da ditadura.
Portando faixas com dizeres como “Abaixo a Ditadura. O Povo no Poder”, os manifestantes seguiram em direção à Assembleia Legislativa. Durante as três horas de marcha, não houve confronto com a força policial que acompanhava o evento, refletindo a maturidade e a organização do movimento estudantil.
A Passeata dos Cem Mil não só demonstrou a insatisfação popular com a ditadura, mas também evidenciou a força e a capacidade de mobilização do movimento estudantil. Após a manifestação, líderes da sociedade civil se reuniram com o presidente Costa e Silva, apresentando reivindicações como a libertação de estudantes presos e o fim da censura. Contudo, nenhuma das demandas foi atendida, resultando em novas mobilizações e repressões.
A repressão aumentou nos meses seguintes, culminando na promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5) em dezembro de 1968, que marcou o início dos anos mais duros da ditadura. Mesmo diante da intensificação da repressão, o movimento estudantil continuou a se manifestar, sendo uma voz constante e corajosa contra o autoritarismo.