Por Mauro Utida

Durante o encerramento do maior evento de inovação do Brasil – o HackTown – ativistas climáticos se reuniram em um workshop para elaborar a “Carta Manifesto dos Hackers para o Futuro rumo à COP 30”, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro do próximo ano. A iniciativa visa dar voz às demandas e preocupações de diversos setores da sociedade sobre a crise climática e seus impactos sociais.

Aproveitando o ambiente criativo e tecnológico do evento que aconteceu em Santa Rita do Sapucaí, cidade no sul de Minas Gerais, entre 1 e 4 de agosto, o grupo formado por estudantes, pesquisadores e ativistas, buscou promover a inclusão de diferentes vozes e perspectivas no debate sobre o clima com a expectativa de ações concretas na próxima edição do HackTown, que acontece três meses antes da COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

O documento conta com a curadoria da EcoUniversidades e aborda temas cruciais como os direitos dos povos indígenas, a localização e os impactos na Amazônia, a justiça climática, a transição energética justa e uma forma de financiar ações pelo clima durante o evento, assim como uma chamada para manifestações de apoio por todo o país. 

“A ideia é que o documento seja uma carta viva, construída coletivamente e com ações que realmente represente as urgências do momento”, diz Thaís Mantovani, Co-fundadora da EcoUni, empresa escolhida pela HackTown para intermediar o documento.

O grupo pretende abordar a importância de se levar em conta a diversidade da Amazônia e não apenas a capital Belém. “A COP precisa ouvir as vozes das diferentes Amazônias, com suas realidades e desafios específicos. Todo o mundo quer salvar a Amazônia, mas quem melhor para dizer sobre a floresta do que quem vive nela? É por isso que precisamos ocupar todos os espaços, principalmente o salão dos líderes mundiais”, destaca Braulina Baniwa, doutoranda em Antropologia e pesquisadora indígena da Sociobioeconomia.

O workshop contou com debates sobre o papel das empresas na crise climática e a proposta de se criar um financiamento para ações adjacentes durante a COP por povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, além da necessidade de se fortalecer ações em periferias e comunidades vulneráveis, e a importância de se garantir justiça climática para todos.

“Temos a oportunidade de levar muita representatividade para a COP 30 quando o mundo todo estará de olho no Brasil. Com o HackTown e as empresas apoiadoras é possível discutir um papel social destas empresas que garantam o financiamento desta representatividade na COP. O que a gente quer nesta carta é que, para cada ação, fique claro o aspecto social a ser desenvolvido”, acrescentou Flávia Bellaguarda, fundadora da LaClima e Youth Climate Leaders. “Durante a próxima edição do HackTown, há três meses da COP, é importante termos um pavilhão específico sobre este tema e estabelecermos uma meta de arrecadação visando a logística das pessoas que iremos levar para Belém”, destacou.

“Queremos que a carta seja um documento forte, elaborado por pessoas de diferentes áreas, para apresentar à COP 30 nossas propostas para um futuro mais sustentável”, definiu Marcos David, idealizador do HackTown.

HackTown: Inovação e felicidade

Santa Rita do Sapucaí, conhecida como a “Capital Brasileira da Eletrônica”, recebeu mais de 10 mil pessoas (¼ de sua população) durante quatro dias do HackTown, festival que busca promover a inovação e a transformação, tanto em nível individual quanto coletivo na cidade. 

A edição de 2024 reuniu pessoas com diferentes habilidades e ideias, com mais de 800 palestras, 300 startups, 100 shows, 100 painéis e mais de 40 locais de realização. O evento busca criar um ambiente colaborativo onde novas soluções e projetos possam surgir. 

O nome “HackTown” sugere uma transformação da própria cidade que sedia o evento. O fato de ser uma cidade pequena é visto como uma vantagem, pois facilita a implementação de mudanças e a criação de um ambiente propício para a inovação.

O evento é realizado desde 2016 e vem se consolidando como um dos principais festivais de inovação, tecnologia e criatividade da América Latina. Um dos maiores responsáveis por este feito é Marcos David, fundador do HackTown, ou, PichO (Pau para toda obra), como ele se define. Profissional da tecnologia, Marcos se mudou para Santa Rita para estudar tecnologia da informação e acabou se conectando a outro universo.

Marcos, explica que o HackTown é um movimento que busca “hackear” a cidade, transformando-a em um lugar mais feliz e próspero. Ele destaca a importância de combinar as “tics” (tecnologias da informação e comunicação) com as “tacs” (tecnologias do amor e da colaboração) para alcançar esse objetivo.

O festival é um legado do trabalho realizado em Santa Rita do Sapucaí desde 2013, chamado “Cidades Criativas, Cidades Felizes”, onde todos são participantes. “A cidade está em constante transformação e o HackTown representa essa mudança. As pessoas estão engajadas, buscando soluções inovadoras para os desafios da comunidade”, explica. “Todas estas ações tem uma meta única que é a felicidade”, define Marcos.

No final de mais uma edição, Marcos experimenta uma dose desta felicidade, expressando a sensação de realização por ter contribuído para a transformação da cidade e por ter criado um espaço para as pessoas se conectarem e realizarem seus “hacks”.