Por Marilda Campbell

A pré-estreia de “Grande Sertão” aconteceu, na última quinta-feira (23), no Cine Carioca Nova Brasília, que fica no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. A obra é uma adaptação do clássico da literatura brasileira “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Com direção de Guel Arraes, mostra a guerra entre policiais e bandidos abordando temas como vida e morte, lealdade e traição, amor e coragem. O filme chega aos cinemas em 6 de junho.

A trama se passa em uma comunidade periférica chamada Sertão, apesar de não ter marcos local e temporal, é fácil identificar a realidade de Sertão em qualquer cidade brasileira. Com um cenário futurista e caótico, combinado com toques de poesia e teatro, “Grande Sertão” emocionou o público que lotou o Cine Carioca. Após a exibição foi realizado um debate com o diretor e os atores Caio Blat, Luisa Arraes, Mariana Nunes e Luellem de Castro.

Para Guel Arraes e o produtor Manoel Rangel foi importante que a primeira exibição pública do filme acontecesse no Complexo do Alemão, por ser uma oportunidade para sentir a reação e, principalmente, ouvir as pessoas que vivenciam as dores, a violência e a presença da polícia e dos bandidos que travam batalhas urbanas como as apresentadas na obra.

Equipe do filme na pré-estreia. Foto: Marilda Campbell/Cine NINJA

“Grande Sertão” é narrada por Riobaldo (Caio Blat) desde o seu encontro com Diadorim na infância, passando por sua vida como professor, sua relação com a polícia, o reencontro com Diadorim adulto (Luisa Arraes) e o seu ingresso no bando de Joca Ramiro (Rodrigo Lombardi). Riobaldo é um homem simples e justo que, por um amor com o qual não sabe lidar, se vê envolvido com a criminalidade.

Diadorim é uma personagem forte, corajosa e leal que, desde a infância, decidiu viver como uma figura masculina para ser aceita no bando de Joca Ramiro. Para Luisa Arraes só é permitido à sua personagem ser livre, violenta, um corpo que mata a partir do momento que vive como um homem. A construção da personagem fez a atriz refletir sobre o feminino e ela conclui que: “acredito que todo mundo deveria experimentar viver o gênero oposto. Tem coisas que nos colocam em caixinhas e nos afastam de quem realmente poderíamos ser”.

Por outro lado, Otacília (Mariana Nunes) é uma personagem vítima da violência e sofre com a dor de uma perda que não tem nome. Isso faz contraponto com Diadorim, afinal na caixinha onde colocam as mulheres é permitido viver violência, seja pela dor ou como vítima, mas não executá-la.

Os atores Luis Miranda e Eduardo Sterblitch também fazem parte do elenco. “Grande Sertão” tem produção da Paranoïd Filmes, coprodução da Globo Filmes e distribuição da Paris Filmes. Foi exibido na Tallinn Black Nights Film Festival 2023 (PÖFF), na Estônia, e premiado como Melhor Direção, para Guel Arraes, na categoria Critic’s Picks.