Grande potência nos anos 90, veja como Cuba perdeu relevância no voleibol
Seleção tricampeã olímpica, Cuba deixou de realizar grandes feitos no voleibol mundial e chega em mais uma Olimpíada sem se classificar.
Por Rafael Lisboa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Com cinco medalhas olímpicas, sendo três de ouro, tanto no feminino quanto no masculino, Cuba é um dos países de grande tradição no voleibol mundial. O país da América Central e Caribe, além de tantas medalhas, venceu diversos campeonatos mundiais e protagonizou uma das grandes rivalidades no esporte: exatamente contra o Brasil.
Praticado no país desde a década de 20, o vôlei teve em Cuba uma grande importância e reconhecimento iniciado no final dos anos 60, quando seleções de ambos os gêneros conseguiram excelentes resultados ao enfrentar seleções da América do Norte e Caribe. A partir desse momento, iniciou-se a hegemonia cubana no continente, tornando-se a maior campeã dos Jogos Pan-Americanos no masculino, com cinco ouros, e no feminino, por oito vezes.
Porém, as glórias cubanas no vôlei ficaram no passado. Nos anos 90 e 2000, a seleção feminina conquistou quatro medalhas e enfrentou jogos duros e tensos contra Rússia e Brasil, rivalidade criada nas Olimpíadas de Barcelona. Desde 2012, Cuba não se classificou para o torneio olímpico, totalizando quatro edições, além de ter deixado de ser a principal força da América Central, ultrapassada pela República Dominicana. No masculino, a situação é bem parecida, pois, apesar de terem se classificado para o Rio 2016, a seleção também esteve ausente em Londres, Tóquio e Paris.
Mas, se a política ajuda a explicar o crescimento de diversos esportes em Cuba, com o investimento realizado nas décadas de 70, ela também auxilia na queda de desempenho em diversas modalidades. As crises socioeconômicas ocorridas no país nos últimos 30 anos influenciaram grandes decisões, pois, sem uma liga forte para pagar salários maiores a jogadores de alto nível, o interesse em permanecer diminuiu e vários buscaram outros países para atuar por clubes e seleções.
Por conta dos embargos econômicos impostos pelos Estados Unidos há décadas, a decadência no investimento no esporte cubano se acentuou. Essas sanções, que restringem o acesso a recursos financeiros, tecnologias e comércio, asfixiaram a economia cubana, limitando a capacidade do governo de manter e expandir programas esportivos de alta qualidade. O impacto negativo desses embargos é profundo e abrangente, afetando não apenas o desenvolvimento de infraestruturas esportivas, mas também a retenção de talentos. Sem os recursos necessários, Cuba viu sua capacidade de sustentar uma liga competitiva enfraquecer, forçando atletas de elite a buscar oportunidades no exterior. Esse êxodo de talentos e a falta de investimento enfraqueceram a posição de Cuba como uma potência esportiva global, uma realidade que se reflete na ausência contínua de suas seleções em competições olímpicas e mundiais.
Sem regras muito rígidas sobre naturalização, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) permitiu que diversos atletas cubanos jogassem por outros países. Pelo Brasil, Yoandy Leal atua na seleção desde 2019 e foi o primeiro jogador naturalizado a defender o país. Após atuar pelo Cruzeiro de 2012 a 2018, o ponteiro se naturalizou brasileiro em 2015 e teve seu pedido aceito pela FIVB em 2017, ano em que começou o “período de carência” de dois anos para o jogador poder assumir outra seleção.
Para Leal, a troca de seleção foi uma escolha difícil, porém necessária devido à baixa remuneração e aos conflitos constantes com a comissão técnica. Os mesmos motivos são relatados por Wilfredo Leon, imigrante cubano naturalizado polonês. Entre as mulheres, Melissa Vargas é o nome mais interessante da lista entre atletas naturalizadas, pois a jogadora, que já brilhava sendo a maior pontuadora defendendo Cuba em torneios de base, se naturalizou turca após diversas tentativas da Federação Sérvia, tornando-se, atualmente, uma das principais jogadoras do voleibol mundial.
Apesar de alguns atletas terem sucesso na naturalização, muitos outros veem a Federação Cubana atrasando a documentação para o processo, pois um jogador cubano, quando transferido de clube, pode resultar em ganho para a seleção. Enquanto o processo não ocorre, o jogador segue preso à nacionalidade, em um momento que não há pretensão de que a situação financeira de clubes, jogadores e federação melhore.