Governador do Acre vai à cúpula do Clima após promover evento com negacionista do aquecimento global
A participação do governador chega a ser incoerente diante do atual momento ambiental do estado. Dados do Inpe e do Imazon apontam níveis recordes de desmatamento da Amazônia dentro do território acreano em 2019.
Texto Fábio Pontes
Enquanto o Acre vai registrando níveis recordes de desmatamento em 2019, o governador Gladson Cameli (PP), mais uma vez, participa de encontro mundial que debate os efeitos das mudanças climáticas bem como a proposição de soluções para reduzir a emissão dos gases do efeito estufa. Entre estas soluções está a proteção às florestas e o combate ao desmatamento, lição esta que o Acre não vem seguindo com a gestão do PP.
Após já ter cumprido agendas na Colômbia e nos Estados Unidos para tratar do tema, desta vez o destino é a Conferência do Clima organizada pela Organização das Nações Unidas em Madri, capital da Espanha. E como não poderia deixar de ser, a viagem será bancada com recursos do contribuinte acreano.
Segundo informações do Portal da Transparência, Gladson Cameli receberá diária no valor de R$ 17,6 mil. Para tentar amenizar a situação, a Casa Civil incluiu neste montante as diárias recebidas para suas viagens a Cruzeiro do Sul e ao Rio de Janeiro. Nesta última, ele terá agenda com a presidência do BNDES.
A participação do governador chega a ser incoerente diante do atual momento ambiental do estado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam níveis recordes de desmatamento da Amazônia dentro do território acreano em 2019.
Segundo o Prodes/Inpe, o total de floresta derrubada saiu de 444 km2 no ano passado para 688 km2 neste; elevação de 55%. O aumento registrado pelo Acre foi o segundo maior na Amazônia Legal.
Já os dados do Imazon apontam que, em outubro último, o estado teve desmatada uma área de 36 km2. Em outubro de 2018 ela foi de 14 km2, o que representa um crescimento de 157% na comparação entre os períodos.
O Imazon também registra alta do desmatamento acumulado entre agosto e outubro do ano passado e os mesmos meses deste ano: 104 km2 e 220 km2, respectivamente; variação de 112%.
Outro dado preocupante neste primeiro ano de Gladson Cameli à frente do governo acreano foi o boom nas queimadas – que está associada ao desmatamento. Os incêndios florestais dispararam, sobretudo, por conta do discurso do governador desautorizando o pagamento de multas aplicadas pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
“Quem for da zona rural, e que o seu Imac estiver multando, alguém me avise porque eu não vou permitir que venham prejudicar quem quer trabalhar. Avise-me e não pague nenhuma multa porque quem está mandando agora sou eu. Não paguem”, disse o governador em maio.
Entre janeiro e outubro de 2019 os satélites do Inpe detectaram 6.757 focos de calor no Acre; no mesmo período de 2018 foram 6.598: aumento de 2,4%.
Vale ressaltar que os níveis de impacto sobre a Amazônia no território do Acre – que mantém preservado 87% de sua cobertura florestal – são registrados desde 2018, último ano de mandato do petista Tião Viana. Os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe abordam o período de agosto do ano passado a julho de 2019.
Desde a campanha eleitoral de 2018 Gladson Cameli promete fazer do agronegócio o carro-chefe da economia local. Para tanto, desautorizou o trabalho desenvolvido pelos fiscais do Imac de combate a crimes ambientais e deixou de lado todas as políticas de valorização da economia florestal. As famílias extrativistas que trabalham com a produção de borracha estão desde o começo do ano sem receber recursos do subsídio que assegura melhor valor de mercado ao produto.
Enquanto a floresta é derrubada e queimada, Gladson Cameli parece fingir que nada está acontecendo, e participa de encontro das lideranças mundiais realmente preocupadas com o futuro do planeta. Na semana passada, ele foi o convidado de honra do evento com um negacionista das mudanças climáticas como resultado das ações humanas, e que menospreza a importância da Amazônia no equilíbrio do clima no mundo.
A palestra, inclusive, teve o apoio do governo do Acre por meio da Secretaria de Meio Ambiente e do Instituto de Mudanças Climáticas.