Gottfried Von Cramm: o bicameão de Roland Garros, bissexual, que rejeitou Hitler
Bicampeão de Roland Garros, o alemão Gottfried Von Cramm recusou ser utillizado como propaganda política de Adolf Hitler e foi preso por uma relação homoafetiva.
Por: Patrick Simão / Além da Arena
Gottfried Von Cramm é um dos maiores tenistas alemães da história e marcou a geração dos anos 30, construindo grandes rivalidades com Fred Perry e Don Budge. Ele já disputou seis finais de Grand Slam e é bicampeão de Wimbledon (1934 e 36). Além disso, ele também venceu Roland Garros e US Open nas duplas, em 1937.
Pela época e nacionalidade, já podemos presumir quem tinha interesse nas conquistas esportivas de Von Cromm: o ditador nazista Adolf Hitler. O tenista, no entanto, sempre negou qualquer propaganda que Hitler poderia fazer com sua imagem e era contrário ao regime. Von Cramm se referia ao ditador como um “pintor de paredes”, fazendo referência à fracassada tentativa de Hitler de ser um pintor. As tensões aumentaram ainda mais em 1937: primeiro quando Van Cromm se posicionou contrário ao exílio do tenista judeu Daniel Prenn. Outro marco importante foi a final da Copa Davis de 1937, quando ele se recusou a ganhar um ponto, alegando erro do juiz, e depois sofreu a virada, resultado que deu o título aos Estados Unidos.
Em 1938, Von Cramm teve divulgado seu relacionamento com o ator judeu Manasse Herbst. Bissexual, o tenista teve dois casamentos com mulheres e, ao ser confrontado pela polícia, afirmou que se relacionou com Herbst. A relação o levou à prisão, visto que o regime havia proibido a prática de relações homossexuais. Alguns tenistas fizeram um abaixo-assinado para que ele fosse solto, o que aconteceu após 1 ano. Mas, mesmo assim, ele foi expulso das competições oficiais, no auge da carreira. Ele tentava recorrer, mas em 1939 iniciou a 2ª Guerra Mundial, que paralisou as competições e deu fim à carreira de Van Cromm.
Gottfried tinha todos os elementos para receber apoio político e ter uma vida tranquila: era o principal tenista alemão, tinha família rica e Hitler queria alçá-lo como garoto-propaganda. Ele não apenas rejeitou Hitler, como, em plenos anos 30 do regime nazista, afirmou ter se relacionado com outro homem. Até hoje, quase 1 século depois, nunca houve um grande tenista do circuito masculino a afirmar uma sexualidade que não seja a heterossexual. Von Cramm ficou por anos no esquecimento, mas sua memória precisa ser resgatada.