A Cia. Sansacroma lançou nos palcos, neste final de semana, um espetáculo que também é uma denúncia contra a “limpeza” e o genocídio das pessoas pretas ao longo do tempo. A peça “Vala: Corpos Negros e sobrevidas” explica, por intermédio de suas coreografias, como a nossa estrutura social foi justificando e moldando novos valores, a urbanidade, a civilidade, a segurança pública e a política de morte. O espetáculo fica em cartaz de 4 a 6 de fevereiro de 2022 no SESC Belenzinho (R. Padre Adelino, 1000, Belenzinho), em São Paulo. Depois, segue temporada por diversos equipamentos culturais nas regiões periféricas, como o Centro de Referencia da Dança, Fábrica de Cultura Brasilândia, Fábrica de Cultura Capão Redondo.

A direção artística, coreográfica e concepção do espetáculo é de Gal Martins, ganhadora do décimo primeiro Prêmio Governo do Estado de São Paulo para Artes de 2020 e 2021 na categoria Cultura Urbana. Este projeto foi contemplado pela Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo — Secretaria Municipal de Cultura.

Gal Martins teve a ideia de produzir o espetáculo após uma visita ao Cemitério dos Pretos Novos, no Bairro da Gamboa, Rio de janeiro. No local, arqueólogos encontraram mais de 5000 fragmentos de ossos e dentes de pessoas negras. Especialistas dizem que até 20 mil corpos podem estar enterrados na área. Os corpos são de africanos escravizados que morreram durante a viagem marítima de três meses ao Brasil.

Foto: Lua Santana

O local foi transformado em um instituto que manteve três valas abertas  com ossadas e objetos de escravos expostos ao público. “Eu fiquei muito mexida porque há uma energia muito forte naquele lugar. Então tive a ideia de criar o Vala”, explica a diretora”.

É um espetáculo que fala de morte da população negra. A ideia do espetáculo é justamente falar que fomos enterrados, mas apesar de tudo, temos sobrevidas.

“Esse enterro não é literal, mas simboliza a tentativa de matar nossa ancestralidade, construindo a ideia do corpo oco a partir da política de violência instalada no país. E como pessoas pretas temos que renascer constantemente”, complementa.

“Vala” traz ao palco o processo de objetificação e desumanização do corpo negro. Sem dúvida, foi um dos instrumentos de opressão e manutenção da ordem e do status quo da nossa sociedade, muito sabiamente utilizado para manterem esses corpos dóceis e adestrados a exercerem na sociedade os papéis e espaços que a ele estavam destinados e que se perpetuaram historicamente na dissociação entre trabalho intelectual e trabalho manual, na sexualização e coisificação do corpo da mulher negra, na relação de traços de selvageria, animalização e incivilidade do corpo negro. Trata-se de um espetáculo que fala de morte, mas, ao mesmo tempo, fala principalmente da vida.

Foto: Lua Santana

TEMPORADA: Vala: corpos negros e sobrevidas

SESC Belenzinho
Padre Adelino, 1000 – Belenzinho
Data: 4 a 06.02
Sexta e sábado às 21h30 domingo às 18h30
Inteira: R$ 30,00 e meia R$ 15,00
Sala de espetáculo I

Pessoas com mais de 12 anos deverão apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19, evidenciando DUAS doses ou dose única para ingressar em todas as unidades do Sesc no estado de São Paulo. O comprovante pode ser físico (carteirinha de vacinação) ou digital e um documento com foto. O uso da máscara é obrigatório durante toda sua permanência na Unidade. Para atividades com ingresso, será necessário apresentar o QR Code na entrada da atividade.

Apresentações Gratuitas:

CRD – Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo – 09 a 11.02
Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n, Praça Ramos de Azevedo
Quarta a sexta às 21h

Fábrica de Cultura da Brasilândia – 09 a 11 de março de 2022
Av. General Penha Brasil, 2508 – Brasilândia
Quarta a sexta às 19h 

Fábrica de Cultura Capão Redondo – 16 a 19 de março de 2022
Rua Bacia de São Francisco, s/n – Conj. Hab. Jardim São Bento
Quarta a sábado às 19h

Ficha Técnica

Direção Artística, Direção Coreográfica e Concepção do espetáculo: Gal Martins Assistente de Direção: Djalma Moura Intérpretes Criadores: Aysha Nascimento, Cristiano Saraiva, Djalma Moura, Erico Santos, Marina Chagas, Regina Santos, Sabrina Dias, Victor Almeida e Tiago Silva Trilha Sonora: Dani Lova e Fefê Camilo Figurinos e Adereços: Gil Oliveira Projeto de Luz e Cenografia: Caio Marinho Engenheiro de som Danilo Santana Preparação Corporal: Djalma Moura Fotografia: Lua Santana Direção de Produção: Vanessa Soares – Movimentar Produções Assistentes de Produção: Dani Lova e Tonny Antonyo Mídias Sociais: Elo Negro Comunicação Assessoria de Imprensa: Lau Francisco Design: Lais Oliveira Apoio: Fomento à Dança de São Paulo – 2020.

Duração: 90 minutos