Por Isabella Rodrigues

Quando ingressou no Senado, Gabriela Montanõ deparou-se com um espaço físico inadequado para mulheres, o que a levou a acreditar que, se há uma divisão equitativa de 50% de homens e 50% de mulheres em um órgão legislativo, é crucial transformar o espaço físico para refletir essa igualdade. A ex-ministra enfatiza que não basta apenas ter mulheres no poder, pois uma mulher isolada, mesmo com uma agenda progressista, sem apoio popular fora do legislativo, enfrenta desafios significativos.

Gabriela destaca a necessidade de alianças políticas e colaboração entre legisladores e a sociedade civil para impulsionar mudanças importantes. Para Gabriela, combinar a ação política dentro e fora do Estado é fundamental para avançar em questões complexas que frequentemente geram polarização.

Um exemplo concreto da eficácia dessa abordagem foi a aprovação da lei contra a violência contra mulheres na Bolívia. Gabriela relembra como mulheres parlamentares, em conjunto com mulheres da sociedade civil, lideraram esse esforço, incluindo as mulheres presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Na época, ela era a presidente da Câmara de Senadores.

 

À exemplo da Lei de Identidade de Gênero, Gabriela também abordou a desinformação em relação às questões de gênero na sociedade boliviana e a falta de conhecimento que impede a tomada de decisões, inclusive dentro dos congressos. Ela destaca que é necessário começar com questões básicas, educando o público sobre seus direitos e incentivando a participação política das mulheres.

Um marco importante na Bolívia é a legislação que exige que as listas de candidatos sejam compostas por 50% de homens e 50% de mulheres. Isso permitiu que a representação feminina na Câmara dos Deputados e no Senado se aproximasse de 50%, ou até mesmo ultrapassasse em alguns momentos. No entanto, a ex-ministra observa que não existe uma lei semelhante para os órgãos executivos, o que ressalta a necessidade de expandir a igualdade de gênero em todas as esferas do governo.

Gabriela também discute a evolução do progressismo na América Latina e como a direita recuperou o poder em alguns países, incluindo a Bolívia. Ela destaca a importância de os países em uma segunda onda progressista retomarem “as bandeiras de transformação” e não se limitarem a serem bons administradores do Estado.

Para ela, governar a partir da esquerda deve envolver a participação ativa das organizações sociais e mobilização nas ruas.

“Há questões que não necessariamente são revolucionárias, mas são justas. Uma delas é que os mais ricos paguem mais impostos. Tem coisas que nem exigem uma revolução, simplesmente fazer coisas justas por parte do Estado acompanhado pelo povo”, finalizou.