Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), diversas manchetes de supostas sanções feitas ao presidente devido a seus discursos anti ambientais, que punham em risco a Amazônia e todo o planeta, foram acompanhadas, contudo, de acordo com investigação feita pelo observatório De Olho nos Ruralistas e divulgada no dossiê “Os Financiadores da Boiada: como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental”, entre 2019 e 2020, grandes investidores globais aportaram mais de US$ 27 bilhões em empresas associadas ao Instituto Pensar Agro (IPA). A cifra bilionária inclui compras de ações por fundos soberanos, concessões de empréstimos e crédito por grandes bancos, renegociações de dívidas, emissões de títulos baseados nos chamados princípios ESG, entre outras operações financeiras. Com base em dados compilados pela Coalizão Florestas & Finanças, De Olho nos Ruralistas identificou os principais fundos de investimento relacionados ao ecossistema do lobby ruralista em Brasília.

O levantamento realizado pelo observatório mostra que, nos últimos três anos, a “queridinha” do capital estrangeiro foi a Suzano Papel e Celulose. Entre 2019 e 2021, o grupo comandado pela família Feffer recebeu US$14,03 bilhões de bancos e fundos de investimento globais, o que equivale a 51,9% do total aplicado em empresas ligadas ao IPA no período. Os principais apoiadores da empresa foram Bank of America (US$ 791,3 milhões), JP Morgan Chase (US$ 774,8 mi) e BlackRock (US$ 525,5 mi).

Estados Unidos e Europa são os que mais injetam dinheiro

A análise das transações financeiras a partir dos dados da plataforma Florestas & Finanças mostra uma ampla concentração dos recursos destinados a empresas do agronegócio brasileiro nas mãos de investidores do Norte global. Os Estados Unidos são o principal financiador, com vínculos de US$7,44 bilhões oriundos, em sua maioria, dos bancos American International Group (AIG), Bank of America, Citigroup, JP Morgan Chase e Vanguard.

Grandes conglomerados financeiros europeus, como os alemães Allianz e Deutsche Bank; os britânicos Barclays e Standard Chartered; os espanhóis BBVA e Santander; o francês BNP Paribas; os holandeses ABN-Amro e Rabobank, entre outros; investem US$ 4,5 bilhões em empresas do IPA.

Ilustração: De olho nos ruralistas

A enxurrada de dólares despejada pelo mercado financeiro em empresas associadas ao IPA também passa por paraísos fiscais. São países de legislação fiscal menos transparente, propícios para a evasão de divisas, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio em escala global. Na teia do IPA constam negócios com investidores registrados em famosos paraísos fiscais, como Bermudas, e também em países com leis similares, consideradas menos exigentes por economistas – como a Holanda.

“O fluxo de investimentos estrangeiros para empresas que atuam no Brasil se expandiu em uma intrincada rede internacional. Na cadeia desses projetos, os povos indígenas são tratados muitas vezes como um ‘entrave para o desenvolvimento’, e as suas terras são invadidas, ocupadas, saqueadas e destruídas”, afirma Eloy Terena, advogado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

“Esses conflitos materializam-se na pressão pela abertura de novas frentes de exploração nos territórios indígenas, levando a ataques diretos de grileiros e outros invasores, junto com o sistemático desrespeito à legislação que protege as terras e direitos indígenas.”

Além do setor privado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com sua política de investimento focada, em parte, no agronegócio, emprestou, entre janeiro de 2019 e abril de 2021, mais de US$ 3 bilhões a empresas ligadas ao IPA, com destaque para a participação societária do banco na Ourofino Saúde Animal, parte do grupo Ourofino, segundo colocado no ranking das empresas que mais atuam dentro da estrutura de associações do agronegócio, com participação em seis entidades.