Prêmio foi criado para contemplar países ou pessoas que emperram avanços nas negociações da Conferência sobre Mudanças Climáticas

O Japão foi o primeiro “premiado” desta COP (CAN)

 

O “Fóssil do Dia” foi criado pela Climate Action Network (CAN) para “premiar” países que impedem o progresso de negociações ou implementação dos planos do Acordo de Paris. De outro lado, países ou pessoas que colaboram de maneira positiva, podem ser premiadas com o “Raio do Dia”. Só que até este domingo (13), ninguém ganhou esse prêmio. A ideia é contemplar aqueles que “são um raio de esperança para as negociações da Conferência sobre Mudanças Climáticas”, explica a CAN.

Confira quem foram os premiados, até o momento, com o “Framboesa de Ouro” da COP27.

9 de novembro

Ao Japão foi direcionado o primeiro Fóssil do Dia da COP27. No dia em que os debates tinham o financimanto climático como foco, os membros da CAN acharam por bem dar o prêmo Fóssil do Dia para o Japão, porque o país está indo na direção contrária ao esperado, que é abolir o uso de combustíveis fósseis.

“O Japão é o maior financiador público do mundo para projetos de petróleo, gás e carvão, contribuindo com US$ 10,6 bilhões por ano em média entre 2019 e 2021. Apesar do reconhecimento internacional de que atingir a meta de 1,5 ℃ significa acabar com o investimento em combustíveis fósseis, o governo japonês está fazendo grandes esforços para exportar soluções falsas para outros países, como o uso de amônia para usinas a carvão, o que significava apenas prolongar a vida útil da energia a carvão além de 2030”, justificou o júri.

A ausência do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida na COP27 também é alvo de crítica: “talvez esteja muito ocupado promovendo falsas soluções no Japão”.

10 de novembro

No quesito Justiça Climática, a realidade egípcia é alvo de questionamento. Afinal, ela não existe se direitos humanos não forem garantidos.

Segundo o júri, enquanto a COP ocorre, presos políticos estão sob o poder do Estado. O fato do evento ter mais de 600 lobistas da indústria de petróleo e gás circulando pela COP27, também foi considerada “irritante”.

“É ultrajante que o acesso à sociedade civil seja severamente restrito, enquanto aqueles que estão destruindo o planeta estão sendo recebidos e cortejados em uma conferência climática”.

Deficiências estruturais como a falta de água, banheiros e comida pouco acessíveis também pesaram para que o Egito fosse premiado com o Fóssil do Dia.

11 de novembro

A sexta-feira teve muitos “premiados” na COP27 (CAN)

No dia dedicado ao debate sobre a “descarbonização”, o Egito voltou a ser “premiado”, desta vez, ao lado dos Estados Unidos e Rússia.

Os EUA ganharam o prêmio justamente no dia da breve passagem do presidente Joe Biden pela COP. Para muitos ativistas climáticos, está faltando iniciativa do governo dos EUA. Também foi criticado o plano apresentado como ação climática pelo enviado John Kerry “para simplificar as compensações de cabono em parceria com grupos filantrópicos, como o Earth Fund, de Bezos e Rockefeller Fund”, explica a CAN.

“A expansão dos mercados de carbono e o casamento de corporações e governo é o epítome de uma agenda neoliberal que faz absolutamente zero para reduzir as emissões reais globalmente. Chega de bobagens e discursos grandiosos, quando se trata de colocar dinheiro de verdade na mesa, os EUA desaparecem de cena”.

E a Rússia, por sua vez, levou o Fóssil do Dia por “usar dinheiro sujo de combustível fóssil para financiar a guerra na Ucrânia”, justificou o júri.

Segundo a CAN, participam da COP27, 33 lobistas de petróleo e gás da Rússia. “E 60% do orçamento da Rússia vem da venda de combustíveis fósseis”, informa a organização.

Que ainda destaca, “a Rússia já gerou mais de 33 milhões de toneladas de emissões de CO2 através da guerra em grande escala na Ucrânia. E continua seus ataques à infraestrutura energética da Ucrânia, que definitivamente não é a maneira como se deve eliminar gradualmente os combustíveis fósseis”.

O júri votou na Rússia ainda, porque a guerra promove impacto global na segurança energética e levou a um aumento nas exportações de carvão da África do Sul, Austrália e Colômbia. “Os combustíveis fósseis impulsionam conflitos, guerras e são a antítese da paz e da estabilidade”.

Já no caso do Egito, o prêmio é compartilhado com os Emirados Árabes Unidos.

Segundo a CAN, neste dia, a presidência da COP27 sediou três eventos pró-combustível fóssil. O ministro da Energia do Egito inclusive descreveu o combustível fóssil como “o combustível de menor emissão” para o período de transição.

“O que é irônico, considerando que eles estão basicamente falando sobre desenterrar metano que já estava preso com segurança abaixo do solo antes de se envolverem”.

Enquanto isso, no Pavilhão dos Emirados Árabes Unidos, próximo evento a receber a COP, a indústria de gás é promovida.

“É como se a presidência da COP28 pensasse que está em uma conferência de produtores de combustíveis fósseis, não nas negociações climáticas”, destaca o júri.

12 de novembro

No sábado, os EUA ganharam mais um Fóssil do Dia por desviar de um dos assuntos mais importantes, o financiamento climático por perdas e danos.

“O prêmio Fóssil do Dia de hoje vai para os EUA por continuar a rejeitar a demanda de mais de 130 países em desenvolvimento, representando mais de 5 bilhões de pessoas, por um mecanismo de financiamento para perdas e danos”.

Enquanto manifestantes marchavam na COP por justiça climática, o enviado especial dos EUA, John Kerry, foi direto e frio em suas declarações sobre perdas e danos.

Segundo o júri, EUA continuam sendo intransigentes no debate sobre perdas e danos (CAN)

“Os EUA e muitos outros países não estabelecerão algum tipo de estrutura legal vinculada a, você sabe, compensação ou responsabilidade. Isso simplesmente não está acontecendo, mas para um monte de países”, disse ele.

Segundo a CAN, os EUA alegam que estão trabalhando com parceiros para encontrar um bom resultado para lidar com as perdas e danos, mas até aqui, não cedeu nem um pouco, deixando clara a mensagem que não haverá nenhum novo fundo ou facilidade para perdas e danos.

“À medida que os desastres climáticos aumentam, deve ficar claro que os países em desenvolvimento não podem esperar mais. Algumas nações ricas mostraram sua abertura para considerar um fundo de perdas e danos, mas os EUA continuam sendo intransigentes”, destaca a CAN.