Théméricourt, França — No seu segundo dia, o encontro internacional Peoples for Forests – Global Gathering consolidou-se como um espaço de articulação, aprendizado e resistência. Mais de 130 ativistas, líderes indígenas, representantes de comunidades locais, defensoras de direitos humanos e jovens de 56 países transformaram os salões e trilhas da floresta de Théméricourt em um mapa vivo de lutas e estratégias pelos territórios.

Sob o lema “Conhece-te a ti mesmo através da floresta”, a programação deste dia foi um convite para fortalecer as raízes das comunidades defensoras das florestas: seu conhecimento ancestral, suas formas de educação, sua capacidade de comunicação, sua estratégia jurídica e financeira. Por meio de 8 sessões paralelas e espaços de caminhada e troca espiritual, reafirmou-se que o verdadeiro poder para proteger as florestas nasce de baixo, de quem as habita e cuida.

Voltar a caminhar na floresta: reconectar para curar

O dia começou com uma caminhada matinal pela floresta, em silêncio e conexão com a terra. Para muitas pessoas defensoras presentes, caminhar em comunidade por um território vivo é um ato político e espiritual. Nesse gesto cotidiano, plantou-se a intenção do dia: fortalecer vínculos, fazer memória do território e abrir espaço para novas formas de cura e aliança.

Foto: Katie Maehler
Foto: Katie Maehler
Foto: Katie Maehler

Sessões paralelas: aprendizados entre ramificações

Ao longo do dia, foram realizados blocos de sessões simultâneas, que colocaram em diálogo temas-chave para os povos que lutam pelas florestas. Confira os principais temas:

Primeiro bloco:

  • Salvaguardar o conhecimento tradicional: Líderes e sábios compartilharam como os saberes ancestrais são tecnologias de vida e como enfrentam ameaças sistemáticas de invisibilização, apropriação e destruição. Foram discutidas estratégias para proteger esse conhecimento a partir dos territórios, mas também por meio de marcos legais e culturais.
  • Conectar lutas locais com audiências globais: Organizações comunitárias refletiram sobre como amplificar suas vozes através de meios independentes, redes sociais, arte e alianças internacionais, sem perder o enraizamento nem a autonomia.
  • Educação para a resistência e transformação – juventude em foco: Jovens líderes de diversas regiões compartilharam experiências em educação popular, autoformação e pedagogias decoloniais como ferramentas para resistir, curar e transformar.
  • A armadilha dos “produtos verdes”: Esta sessão revelou como muitas iniciativas de “sustentabilidade” ou “compensação” escondem novas formas de apropriação, extrativismo e exclusão. Analisou-se como o greenwashing desloca comunidades e mantém lógicas coloniais em novas embalagens.

Segundo bloco:

  • Comunicação estratégica e o poder de contar histórias: Participantes debateram como a narrativa pode ser uma forma de defesa territorial. Foram compartilhados exemplos de campanhas, documentários, intervenções públicas e processos de comunicação comunitária que desafiam os discursos oficiais sobre desenvolvimento e progresso.
  • Usar a lei em nosso trabalho: Nesta sessão, explorou-se como as ferramentas legais, quando colocadas a serviço das comunidades, podem proteger os direitos coletivos, defender os territórios e exigir justiça. Foram compartilhadas boas práticas em litígios, incidência e defesa legal desde e para os povos.
  • Assegurar, defender e gerir direitos territoriais comunitários: As comunidades compartilharam suas experiências sobre como obter o reconhecimento legal de suas terras, bem como estratégias de governança comunitária que garantem sua conservação a longo prazo.
  • Desfinanciar a destruição: Esta foi uma das sessões mais dinâmicas. Ativistas de diversos países trabalharam colaborativamente com ferramentas de código aberto para rastrear financiamentos destrutivos por trás de projetos extrativistas, infraestruturas impostas e expansão agroindustrial. Discutiu-se como pressionar efetivamente bancos, fundos de investimento e governos que financiam a destruição.
Foto: Katie Maehler
Foto: Katie Maehler

Um mapa vivo de interdependência e resistência

O segundo dia revelou com clareza uma verdade fundamental: as lutas locais estão interconectadas por fluxos de comércio, decisões financeiras, narrativas globais e marcos legais. Ao compartilhar análises de países como Brasil, Índia, Colômbia, Indonésia, Quênia, Guatemala ou Nigéria, teceu-se um diagnóstico comum dos motores do desmatamento, assim como uma agenda compartilhada de resistência.

Peoples for Forests consolida-se como um espaço onde não apenas se denunciam as injustiças, mas onde se cultivam alternativas e constroem caminhos de cura. Do conhecimento ancestral às ferramentas digitais, do canto ritual à pressão política, cada sessão do dia 2 mostrou que a defesa das florestas é também a defesa da vida digna, da autonomia e da memória.