Forças policiais são responsáveis por mais de um terço das mortes violentas no Rio de Janeiro
Dados foram levantados pelo Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni)
Nos últimos três anos, mais de um terço das mortes violentas ocorridas na região metropolitana do Rio de Janeiro foram causadas pelas forças policiais, totalizando 35,4% dos casos. Em contraste, no ano de 2013, que foi o ano menos letal da série de análises de 2007 a 2022, o percentual de mortes causadas pela polícia foi de 9,5%. Esses dados foram levantados pelo Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), e divulgados nesta sexta-feira (5) pela Folha de São Paulo.
O conceito de letalidade violenta é um dos indicadores estratégicos da segurança pública do Rio de Janeiro, que inclui homicídios dolosos (com intenção de matar), latrocínios (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e mortes por intervenção de agente do estado. Ou seja, toda morte não acidental é contabilizada.
O novo estudo também cria uma subcategoria para o termo “chacina”, que é a morte de mais de três pessoas em um curto espaço de tempo, perpetradas por um mesmo agente ou grupo. Agora, há também a categoria “megachacina”, definida como a ocorrência de ao menos oito mortes violentas em um mesmo local. O pesquisador Daniel Hirata, um dos estudiosos que assinam o levantamento, comparou as mortes em operações policiais com as chacinas ocorridas em 1993 no Rio de Janeiro, como as de Vigário Geral e Candelária.
Analisando a letalidade, os pesquisadores apontaram que o primeiro ponto de desvio foi a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em 2008 e do sistema de metas em 2009, que coincidem com a redução da participação estatal em mortes. O sistema de metas premiava agentes de unidades policiais com baixo índice de confrontos, mas esse marcador estratégico foi descontinuado.
O segundo ponto de inflexão foi o início da desmontagem dessas duas políticas, aliado à grave crise fiscal que levou o estado do Rio à falência em 2015. “Observa-se no período posterior a esses marcos um crescimento constante da participação da letalidade policial na letalidade violenta e no número de chacinas policiais, inclusive muito superior à diminuição registrada anteriormente”, diz o relatório.
O terceiro ponto de inflexão veio somente com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de restringir as operações policiais em 2020, o que permitiu frear a letalidade.