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‘Flow’: um convite ao sentir
Uma experiência sensorial onde o silêncio grita.
Por Oliver Pontes
Há filmes que nos contam histórias e há filmes que nos fazem sentir-las. Flow se encaixa na segunda categoria. Acompanhamos a trajetória de um gatinho diante do inevitável e, sem perceber, somos sugados para dentro dessa mágica experiência. O silêncio se torna linguagem, e a ausência de palavras nos faz escutar ainda mais o que o filme tem a dizer.
Em tempos onde as palavras são jogadas ao vento sem filtro, e a comunicação em suas variedades existentes se esvazia, surge Flow, um filme que não precisa de uma única palavra para dizer tanto.
A animação nasce como um convite para sentir, observar e preencher vazios respondendo às lacunas do silêncio que permeiam a trama. Flow não entrega respostas prontas, ele sugere, provoca e nos convida a refletir. Em um tempo onde se fala tanto para dizer tão pouco, o filme nos recorda da potência do silêncio e da força das mensagens que apenas o sentir pode decifrar.
É tão orgânico o que Flow traz, que ele nos faz criar sons enquanto assistimos. Sons estes quando o coração palpita, ou quando as lágrimas parecem louvar a trama. Talvez seja essa a explicação para a comoção de um filme de um gatinho e seus amigos levarem Flow ao maior prêmio de cinematografia do mundo (o Oscar), pois ele faz o telespectador se conectar com a sua própria bagagem emocional dentro de um mergulho no singelo e na pureza de como as coisas genuínas representadas pelos animais podem ser tão profundas.
A conexão que o longa cria com o público é de resgate nas emoções passadas e nas futuras, em ligações de laços tão profundos mostrando o significado individual para cada pessoa que assiste-o. Ele também traz o convite para que cada um descubra, dentro de si, os significados que fazem sentido.
É como uma descoberta de emoções que estavam trancafiadas, e de lembranças que muitas das vezes, estão tão perto mas que parecem estar tão longe. O gatinho consegue mexer com o coração principalmente de quem convive com esses bichanos no dia a dia.
A representação sem o trivial de humanização nos animais em animações foge do comum, e por mais que pareça estranho um filme que não tenha diálogo, o gatinho consegue conversar em todas as cenas presentes, principalmente pelo olhar.
O filme prova que ele ultrapassa os valores de uma animação; ele se torna uma experiência sensorial onde o silêncio grita calorosamente. Flow nos lembra que nem tudo precisa ser explicado, que algumas mensagens são mais bem compreendidas no espaço entre as palavras. E, talvez, essa seja a maior magia do filme: ele nos permite sentir livremente, sem amarras, nos conectando com o que há de mais genuíno em nós mesmos.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.