Quase 60 anos após o assassinato de Malcolm X, em 1965, a família do líder dos direitos civis entrou com uma ação federal contra a CIA, o FBI, o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) e outras entidades. O processo, apresentado na última sexta-feira (15) no tribunal federal de Manhattan, acusa as agências de negligência e envolvimento em uma conspiração que teria levado à morte de Malcolm X, além de ocultação de provas que poderiam ter esclarecido o caso.

Malcolm X, nascido Malcolm Little e mais tarde conhecido como El-Hajj Malik El-Shabazz, foi uma figura central na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Líder carismático, ganhou notoriedade na Nação do Islã antes de fundar a Organização da Unidade Afro-Americana. Em 21 de fevereiro de 1965, enquanto discursava no Audubon Ballroom, em Manhattan, foi assassinado na frente de sua esposa grávida e de três de suas filhas. O crime ocorreu dias após sua casa ter sido alvo de um ataque com coquetel molotov, que quase atingiu suas filhas pequenas.

Ilyasah Shabazz, filha de Malcolm X, fala ao lado do advogado Ben Crump e da equipe jurídica durante uma entrevista coletiva para anunciar um processo contra agências governamentais e o Departamento de Polícia da Cidade de Nova York (NYPD) pelo suposto assassinato e ocultação de evidências em torno do assassinato de Malcolm X na cidade de Nova York, EUA, em 15 de novembro de 2024. (REUTERS)

O processo movido pela família busca mais de 100 milhões de dólares em indenizações, alegando que as agências sabiam das ameaças contra Malcolm X, mas não intervieram para protegê-lo. A família afirma que o NYPD intencionalmente retirou seus oficiais do salão de baile antes do assassinato e que a prisão de membros da equipe de segurança do ativista nos dias anteriores o deixou ainda mais vulnerável. Além disso, agentes disfarçados de agências federais estavam presentes no local, mas não impediram o ataque.

Ilyasah Shabazz, filha de Malcolm X, declarou que as ações e omissões das autoridades não apenas permitiram o assassinato, mas também resultaram em décadas de sofrimento para sua família. “Por décadas, sofremos a dor do desconhecido. Não sabíamos quem foi responsável pelo assassinato, nem o nível de envolvimento das autoridades que deveriam protegê-lo”, afirmou em uma coletiva de imprensa ao lado do advogado Ben Crump, conhecido por representar famílias de vítimas de violência racial.

Três homens foram condenados pelo assassinato de Malcolm X, mas dois deles, Muhammad A. Aziz e Khalil Islam, foram exonerados em 2021, após uma revisão judicial revelar que autoridades ocultaram provas que poderiam ter alterado os veredictos. O terceiro condenado, Thomas Hagan, foi libertado em 2010.

A família também acusa as agências de coordenar ações para encobrir o crime e dificultar o acesso às informações. Segundo o processo, registros que poderiam esclarecer os fatos foram ocultados, incluindo identidades de informantes e agentes infiltrados presentes no local. “Esperamos que esta ação judicial ajude a corrigir os erros históricos e que a verdade sobre o assassinato de nosso pai seja reconhecida”, afirmou Shabazz.

As agências processadas não comentaram o caso até o momento. O FBI limitou-se a reiterar sua política de não comentar litígios em andamento. Para a família, no entanto, o objetivo principal do processo não é apenas obter reparação financeira, mas também garantir que a verdade histórica seja revelada. “Este processo é sobre justiça e a recuperação do legado de Malcolm X”, concluiu Ben Crump.

Fontes: apnews e The New York Times