Festival Cine de Expressão destaca o protagonismo das juventudes periféricas
Festival trouxe a Ceilândia os destaques na produção audiovisual de várias quebradas do DF
Por Vinícius Remer da Silva
O cinema tem abordado o conceito do multiverso, onde podemos existir em diferentes realidades, em universos possíveis. A arte, assim como o cinema, se apresenta como essa possibilidade de explorar diferentes caminhos. A juventude, principalmente a periférica, que participou do projeto Cine de Expressão, decidiu seguir por essa estrada: encontraram na arte do cinema a oportunidade de protagonizarem as suas próprias histórias e viverem, ao menos por um instante, outras realidades.
Mas antes do close do tapete vermelho, onde os jovens cineastas receberam premiações e o tão desejado troféu, teve muito corre. Foram mais de 100 horas de formação em audiovisual durante os 12 meses do projeto Cine de Expressão. Um ano inteiro dedicado a produzir e contar histórias protagonizadas por jovens de várias quebradas do Distrito Federal. O resultado de tudo isso foi exibido no Festival Cine de Expressão, realizado de 15 a 19 de março, no Jovem de Expressão e na Casa do Cantador, em Ceilândia-DF, com uma intensa programação: oficinas, debates e mais de 10 filmes inéditos exibidos.
A maioria das produções exibidas durante o festival dialoga diretamente com os temas relacionados a juventude negra periférica. São obras que nos mostram detalhes de quem são as referências para esses jovens, como um quadro dos Panteras Negras, um livro de Angela Davis ou do autor Frantz Fanon, os quadrinhos do ilustrador LØAD ou o rap A Procura da Paz, do grupo Cirurgia Moral.
São diversas as referências espalhadas durante as tramas, num exercício de citar outras linguagens e autores que são a fonte de inspiração para que esses personagens ficcionais, muitas vezes baseados nas vivências de seus realizadores reais, consigam as suas reviravoltas, os seus protagonismos e as suas libertações.
Essa metalinguagem explorada nos filmes também extrapolou as telonas e está simbolicamente representada num dos momentos mais lindos do festival. A participação de Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, pôde, sempre atenta e generosa, receber um troféu como homenageada e conferir as produções desses jovens, os universos e as realidades por eles imaginadas no primeiro festival de cinema de Ceilândia, o Cine de Expressão.
Fotos: Ana Flávia, Mateus Barros, Matheus Alves e Thiago Varela