Desde 2015, o Festival Casa Mó (@festivalcasamo) tem sido um símbolo de resistência e transformação cultural em Cabedelo, Paraíba. O evento, que já acolheu inúmeros artistas e iniciativas locais, consolidou-se como um marco para a cena independente, acelerando talentos e dando visibilidade à produção cultural da região. Porém, desde 2020, o festival enfrenta, segundo relatos de seus organizadores, uma dura realidade: perseguição institucional e sabotagem por parte da Secretaria de Cultura de Cabedelo (Secult), que estaria privilegiando interesses pessoais em detrimento do coletivo.

De acordo com os relatos, a situação teria ficado evidente em 2024, quando o Festival Casa Mó foi impedido de competir no edital da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB). De acordo com Noé Pires, produtor do evento, a Secult criou uma categoria exclusiva com uma única vaga, destinada a uma iniciativa vinculada à própria Rede Criativa da secretaria. “Fomos excluídos de qualquer chance de concorrência justa. Não bastasse isso, quando buscamos suporte para a 9ª edição do festival, realizada em 27 de outubro de 2024, recebemos um ‘não’. Enquanto isso, eventos pessoais do secretário, como um Halloween promovido por ele, tiveram mega estrutura financiada com recursos públicos”, relatou Noé.

Outros artistas e produtores culturais da cidade também expõem que quem questiona ou critica a gestão cultural local estaria sendo sistematicamente ignorado ou silenciado. A produção do Casa Mó também acusa a Secult de copiar iniciativas independentes sem oferecer apoio adequado. “Negaram apoio ao nosso evento e, menos de um mês depois, lançaram um festival praticamente idêntico. Eles não ajudam, mas copiam. Resta rir pra não chorar”, acrescenta o produtor.

Uma carta, em forma de desabafo, publicada em abril de 2024 por Noé, resume 12 anos de dedicação ao evento que busca transformar Cabedelo em um polo cultural. Na carta, ele critica a falta de apoio à arte independente na cidade e questiona a existência de uma verdadeira rede criativa, que exclui movimentos como reggae, rap e as batalhas de MCs. Ele ressalta a necessidade de romper com uma cultura separatista e destaca a importância de um festival de artes integradas, que, segundo ele, não deveria ser tratado com descaso, especialmente com um orçamento de apenas 5 mil reais. A carta reflete o desabafo de quem acredita no potencial cultural local, mas enfrenta obstáculos de uma gestão pública que, segundo ele, favorece interesses próprios em detrimento da cena artística independente.

Apesar das dificuldades, o Festival Casa Mó segue firme, apoiado pela comunidade artística e pelo público que reconhece sua importância para a cultura local. “Cabedelo merece mais. Nossa cultura, nossos artistas e nossos produtores precisam de respeito, igualdade de oportunidades e transparência. Seguimos na resistência porque acreditamos no poder da arte como agente de transformação”, conclui Noé.

A luta do Casa Mó reflete, segundo seus organizadores, uma realidade enfrentada por muitos projetos culturais independentes no Brasil, que, mesmo diante de adversidades e falta de apoio, resistem para manter viva a arte e a criatividade em suas comunidades.