Após a intensa e inspiradora passagem pelo Quilombo Vila São João, em Berizal, no começo do mês, o Minas LAB – Festeja Tradição Mineira segue sua caminhada pelos territórios tradicionais de Minas Gerais e chega agora à Chapada do Norte, para sua oitava etapa, realizada na comunidade Quilombo São João Marques, de 20 a 22 de junho.

O projeto une formação e celebração: oferece oficinas práticas de comunicação — fotografia, vídeo e redes sociais — voltadas à juventude quilombola, com o objetivo de fortalecer as narrativas e a identidade cultural das comunidades. As oficinas estimulam que os próprios participantes se tornem protagonistas na documentação e difusão de seus saberes e tradições.

Desde 2020, o Festeja Tradição Mineira atua na valorização das festas, culturas e memórias populares de Minas Gerais. Em 2025, com o apoio do Minas LAB, o projeto está percorrendo 15 comunidades quilombolas e indígenas no estado, conectando comunicação comunitária, juventude e territórios ancestrais.

Ao longo de 2024 e 2025, o projeto já percorreu comunidades como:

  • Quilombo dos Arturos (Contagem/MG) – referência nacional na preservação das tradições afro-brasileiras e festejos religiosos;
  • Quilombo Nossa Senhora do Rosário (Ribeirão das Neves/MG) – com forte expressão da cultura quilombola e religiosa;
  • Quilombo Família Teodoro de Oliveira e Ventura (Patos de Minas/MG) – preservação dos saberes ancestrais quilombolas;
  • Aldeia Arapowã Kakya do povo Xukuru-Kariri (Brumadinho/MG) – práticas culturais, resistência e fortalecimento da identidade indígena;
  • Aldeia Escola Floresta do povo Maxakali (Teófilo Otoni/MG) – educação indígena, preservação da língua e dos rituais tradicionais;
  • Quilombos e comunidades tradicionais da Serra das Araras (Chapada Gaúcha/MG) – território do Grande Sertão Veredas, berço de tradições veredeiras e quilombolas, com forte conexão com o cerrado e as veredas;
  • E, recentemente, o Quilombo Vila São João, em Berizal, onde dá sequência à construção coletiva de comunicação e memória.

Agora, São João Marques é a oitava comunidade a receber a ação este ano, marcando o meio do caminho de uma jornada construída na escuta e na presença junto aos territórios. No quilombo, o projeto oferecerá 10 bolsas de formação para jovens comunicadores locais, além de oficinas práticas com foco em registro audiovisual, redes sociais e cobertura colaborativa das tradições da comunidade.

A proposta é produzir conteúdos que ampliem a presença digital, fortaleçam a memória viva e construam um banco coletivo de imagens, sons e textos sobre o cotidiano e as celebrações locais. Entre as ações práticas da formação, os jovens farão uma cobertura colaborativa da tradicional Festa de São João Batista, momento de grande importância cultural e espiritual para o território.

A chegada do projeto a São João Marques reafirma o compromisso com o fortalecimento das vozes quilombolas e a valorização dos saberes enraizados na terra. É mais um passo numa caminhada coletiva por uma comunicação feita com afeto, ancestralidade e protagonismo popular.

A Comunidade Quilombola de São João Marques, localizada na zona rural de Chapada do Norte, no Médio Jequitinhonha (MG), é um território de resistência, ancestralidade e cultivo de saberes. Composta por cerca de 200 famílias, sua base é a agricultura familiar, com plantios de milho, feijão, mandioca, hortaliças e amendoim, que sustentam não só a alimentação, mas também a identidade e a permanência das pessoas no território.

Fundada em 1998, a Associação Quilombola de São João Marques (ASQSAJOM) é o motor organizativo da comunidade, responsável por articular ações que vão do fortalecimento da produção agrícola à valorização da juventude quilombola. Em 2024, a associação foi contemplada com recursos do Fundo Brasil, permitindo a aquisição de uma carretinha e implementos agrícolas, iniciativa que busca ampliar a autonomia produtiva e criar condições para que os jovens permaneçam no campo.

Apesar dos desafios enfrentados — como o difícil acesso, a precariedade no transporte e a escassez de medicamentos —, a comunidade mantém práticas de cuidado que integram o saber tradicional, como a fitoterapia e as rezas, ao atendimento do SUS, construindo uma atenção à saúde que respeita sua cultura e especificidades.

Culturalmente, São João Marques é vibrante. A tradicional Festa de São João Batista reúne cortejos, missas sertanejas e manifestações folclóricas, reafirmando a força da oralidade, da espiritualidade e das raízes afro-brasileiras. A comunidade também preserva a memória viva dos antigos quilombos da região, sendo uma das 14 comunidades quilombolas oficialmente reconhecidas em Chapada do Norte. Recentemente, integra roteiros de turismo comunitário como a “Rota dos Quilombos”, que propõem vivências imersivas e valorizam o território como espaço educativo, de acolhimento e de trocas entre culturas.

A tradição em movimento

O Festeja Tradição Mineira – Minas LAB segue mobilizando territórios, formando juventudes e fortalecendo a comunicação como ferramenta de luta, resistência e celebração da vida. A cada parada, planta sementes que florescem em forma de vídeos, fotografias, textos, podcasts, registros e, principalmente, no fortalecimento da identidade cultural das comunidades.

Saiba mais em http://festejatradicaomineira.org.