Foto Juliana Adriano

Depois de cinco longos anos, ontem (11/05), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra abriu os portões da 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo até o dia 14/05.

Em meio a uma tentativa de criminalização de ocupações de terra com a CPI do MST, o maior movimento social da América Latina terá a oportunidade de apresentar para a população brasileira o poder da produção de alimentos seguros e de qualidade produzidos nos assentamentos da reforma agrária de todo o país.

Durante os dias de feira, a expectativa é que sejam comercializadas 500 toneladas de alimentos, vindos em 56 carretas de 23 estados brasileiros. Deste montante, 30 toneladas serão doadas em uma ação de solidariedade, no domingo (14). Além da diversidade de alimentos, a feira tem uma praça de alimentação que reúne 30 cozinhas com 95 pratos típicos de diferentes regiões brasileiras.

A abundância de alimentos da agricultura familiar pretende mostrar o importante papel dessa produção na alimentação brasileira, quebrando a imagem de que o agronegócio, produtor de commodities, alimenta o país. A verdade, trazida na feira e na luta do MST, é que 70% das variedades de alimentos que chegam à mesa da sociedade brasileira hoje são produzidos na agricultura familiar e na reforma agrária.

“É um país que produz uma diversidade muito grande de alimentos e a feira irá expressar isso, mais de mil produtos serão mobilizados nos assentamentos, das ocupações, de cooperativas e associações da reforma agrária do Brasil inteiro. E dessas 500 toneladas nós queremos que cerca de 30 toneladas seja só para ação de solidariedade”, afirma Diego Moreira, da coordenação nacional do setor de produção do MST.

Os quatro dias de evento no Parque da Água Branca marcam, ainda, a primeira grande ação do movimento depois da jornada de lutas do mês de abril e da aprovação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o MST. Ainda em vias de ser instaurada, a CPI visa investigar as ocupações dos sem-terra. “Eles vieram para o ataque, para esconder os crimes do latifúndio”, resumiu João Pedro Stedile, liderança do MST, no podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato.

Se, ao ocuparem terras, movimentos populares argumentam que a concentração fundiária faz com que imensos territórios deixem de cumprir sua função social, a produção de alimentos saudáveis traz o outro lado da moeda. Revela, justamente, uma das funções sociais da reforma agrária.

Café Guaií e produzido pelas famílias Sem Terra do Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas Gerais. Foto: Juliana Adriano

Neste contexto de CPI e de organização de milícias rurais contra ocupações, a Feira Nacional da Reforma Agrária busca, diz o MST, trazer evidências concretas aos argumentos do movimento em defesa de suas formas de atuação e da redistribuição de terras no Brasil.

“As nossas feiras são a expressão disso. A produção de alimentos saudáveis é uma forma de expressar o porque da função social da reforma agrária”, frisa Ceres Hadich, da direção nacional do MST. Lembrando que o país tem, atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome, de acordo com a Rede Penssan, a dirigente ressalta que para produzir comida, é preciso ter terra.

Ao longo das quatro décadas de existência, o MST aprimorou, conta Hadich, seu “programa de reforma agrária popular”. Além da “democratização do acesso à terra e da ressignificação das formas de trabalho”, diz ela, o movimento incorporou entre seus pilares a defesa de mudanças nas formas de relação entre as pessoas e a natureza.

“Temos questões civilizatórias a enfrentar””, alerta Ceres. “E se a gente não fizer isso, do ponto de vista de uma ação política e estrutural, a gente está fadado inclusive a deixar de existir enquanto humanidade”.

Programação

A programação da Feira continua até domingo (14), com diversas atividades gratuitas e abertas ao público. Nesta quinta (11), ainda é realizado às 14h, o Seminário: a Disputa Ideológica em Tempos de Neofascismo e Agronegócio, com a presença de Camila Rocha, Pedro Fiori Arantes e Ana Manuela Chã do MST, além da oficinas: Toda a história importa e Arpillera, como técnica têxtil. E à noite, entre às 18h e 20h está previsto show com Zeca Baleiro, Alessandra Leão e Participação Sem Terra, no palco Arena.

Foto: Juliana Adriano

12/05 – Sexta-feira

Manhã: 8h às 12h
8h: Café da Resistência

10h: Ato Político de Abertura da Feira

Seminário e oficina
10h: Seminário: Desafios da Alimentação Saudável e nutrição na educação escolar
Local: Auditório 2 – Terstisal

10h: Seminário Agroecologia e Meio Ambiente

Local: Café Literário Carolina Maria de Jesus

10h: Oficina: Arpillera, como técnica têxtil

Local: Tenda em frente o palco terra

Tarde – 12 às 18h
Apresentações artísticas:
Ivan Lobo
Tita Reis e Banda
Cabaré Feminista
Dáguas
Mamulengo
Cortejo Paulo Freire

Seminários e oficina

13:30h Seminário: Reforma Agrária Popular e as Relações Humanas
Local: Café literário Carolina Maria de Jesus

14h: Seminário: Políticas públicas e a Reforma Agrária Popular
Local: Auditório 1 – Paulinho Nogueira

14h: Oficina: Arpillera, como técnica têxtil

Local: Tenda em frente o palco terra

Noite – 18h às 20h
Palco Arena
Yago Oproprio
Jorge Aragão

13/05 – Sábado

10h: Ato em defesa da Reforma Agrária

Tarde – 12 às 18h
Apresentações artísticas:
Cacique e Pajé
Baobá
Clarianas
Canções de luta
Jongo

Seminários e oficina

14h: 135 anos da abolição: latifúndio, fome e trabalho escravo;

Local: Espaço Melhor idade
14h: Reforma Agrária, conflitos e desafios na atualidade;

Local: Auditório 1 – Paulinho Nogueira

14h: Oficina: Arpillera, como técnica têxtil

Local: Tenda em frente o palco terra
15h – Reunião: 40 anos do MST e a Memória

Local: Tenda último pavilhão

Noite – 18h às 20h
Palco Arena
Gaby Amarantos e Jhony Hooker
Escola de Samba Camisa Verde e Branco

14/05 – Domingo

9h: Maracatu
10h: Conferência pelo Direito à Alimentação Saudável

Tarde – 12 às 18h
13h: Ação “MST cultivando solidariedade”
Apresentações artísticas:
Samba de origem
Pastoras do Rosário
Pereira da Viola
Folia de Reis
Trupe de Olho na Rua

Seminários

14h: Seminário: Cortejo Agroecológico e Cultural

14h30: Ato Político: Agroecologia na Boca do Povo

Local: Café literário Carolina Maria de Jesus

Noite – 18h às 20h
Palco Arena
Cantadeiras
Lenine
Larissa Luz
Liniker
Alzira Espíndola
Tulipa Ruiz
Chico Cesar
Mestrinho