Fadi ElDeeb, o único representante da Palestina nos jogos
O palestino, vítima do exército de Israel, estreia nos Jogos Paralímpicos, honrando sua bandeira.
Por Giuseppe Capaldi, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024
Fadi ElDeeb, único atleta a representar a Palestina nesta edição dos Jogos Paralímpicos, foi selecionado pelo Comitê Paralímpico Palestino após receber uma vaga cedida pelo Comitê Paralímpico Internacional, que incluirá o maior número de nações possível. Competindo no arremesso de peso F55, esporte que ele não praticava há três anos, Fadi conseguiu sua melhor marca da temporada, embora tenha terminado na última colocação.
Atleta profissional de basquete em cadeira de rodas, Fadi competiu em diversos esportes ao longo da carreira. Nos Jogos Paralímpicos, além do basquete e arremesso de peso, já participou de competições de tênis de mesa, lançamento de dardo e disco. Até os 17 anos, Fadi não utilizava cadeira de rodas e praticava futebol e tênis, mas foi ao vôlei que chegou à seleção nacional da Palestina. No entanto, em outubro de 2001, durante a Segunda Intifada – movimento popular palestino contra a ocupação de Israel – Fadi foi baleado nas costas por um soldado israelense. O tiro atingiu sua coluna vertebral, nas vértebras T11 e T12, e ele passou a usar cadeira de rodas.
Em 2004, Fadi voltou ao esporte, desta vez no basquete em cadeira de rodas, onde se profissionalizou. Apenas em 2007 começou a competir no atletismo. Quase participou dos Jogos de Londres 2012, mas uma lesão no ombro o impediu de competir.
Para a edição de Paris, Fadi enfrentou muitas dificuldades em sua preparação. Em entrevista à Australian Associated Press, relatou que teve apenas 28 dias para treinar para o arremesso de peso F55, esporte no qual não competia há três anos. Além do tempo reduzido, enfrentou a falta de recursos: “Já havia muito pouco equipamento esportivo e, às vezes, tão poucos lugares para treinar, treinamos na rua”, disse ao The Guardian. “Para o disco, às vezes não tínhamos discos de treinamento adequados, então usávamos substitutos feitos de plástico”, acrescentou.
Como se as dificuldades de treinamento não fossem suficientes, em dezembro do ano passado, Fadi sofreu uma perda devastadora: seu irmão foi morto em um bombardeio em Gaza. “No dia 6 de dezembro, eu tinha um jogo da liga francesa e, quando terminei, vi várias ligações do meu irmão. Tentei retornar, mas não consegui contato”, disse Fadi à Reuters. “No dia seguinte, recebi a notícia de Gaza: ‘Seu irmão foi morto em um ataque ao nosso prédio’.” Além do irmão, Fadi perdeu outros 16 familiares desde a intensificação do conflito entre Israel e Palestina.
Mesmo diante de tantos desafios, Fadi Aldeeb aceitou o convite do Comitê Paralímpico Palestino sem hesitar. Ele destacou a importância de sua participação para o povo palestino: “Não estou aqui por mim, estou aqui por 11 milhões de palestinos dentro e fora da Palestina. Estou aqui para levantar a bandeira da Palestina em Paris… e para dar a mensagem de que ainda estamos aqui. Ainda estamos vivos. Ainda estamos pedindo liberdade e ainda precisamos dos mesmos direitos humanos”, declarou em entrevista à Al Jazeera.
Com a escalada do conflito em Gaza desde outubro de 2023, os números mais recentes indicam mais de 41 mil mortos, 95 mil feridos e 10 mil desaparecidos, resultado de ataques sem precedentes da ofensiva israelense contra a população local.