Extrema direita dissemina notícias falsas sobre a importação de arroz pelo Governo Federal
Dentre tantas notícias falsas que circulam, as mais recentes invenções dizem que o Governo Federal iria importar um “arroz falso”, feito de plástico e papel, ou que contém ovos de lombriga. Um mês depois do início das chuvas no RS a máquina de fabricar mentiras continua a todo vapor.
Por Leila Monnerat
Não bastasse a tragédia socioclimática, as enchentes no Rio Grande do Sul trouxeram consigo uma enxurrada de desinformação e fake news. Em meio a tantas que circulam pelas redes sociais e grupos de mensagens, as notícias falsas sobre o arroz têm ganhado volume nos últimos dias. Dentre as mais recentes invenções, a de que o Governo Federal iria importar da China um “arroz falso”, feito de plástico e papel.
Nos conteúdos que circulam há vídeos que mostram a produção de um “arroz artificial” pela empresa SunPring, da China. Ela é uma fabricante de máquinas para a indústria alimentícia. No vídeo em questão aparece uma máquina extrusora de arroz artificial (ou arroz fortificado), que é feito a partir de diferentes farinhas, tais como milho, trigo, aveia e soja – mas não plástico ou papelão, como dizem as notícias “desinformativas”. A Conab já esclareceu mais de uma vez que o arroz a ser importado, e cujo leilão havia sido aberto, é o arroz tipo 1, da espécie Oryza sativa.
Além dessa, também circula a notícia falsa de que “dentro de cada grão de arroz importado pelo governo brasileiro existe “a maior lombriga já vista, geneticamente modificada para crescer exponencialmente dentro dos corpos humanos”. É importante lembrar que a infecção por Ascaris lumbricoides se dá pela ingestão de ovos presentes em alimentos crus mal-lavados ou água não-tratada, mas não cereais.
Outra notícia falsa que circulou foi o possível desabastecimento. Redes de supermercados estamparam suas gôndolas com cartazes dizendo que havia falta nos estoques, apesar de o Governo Federal, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e até mesmo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) alertarem que não haveria desabastecimento de alimentos. O falso alarde gerou uma corrida aos supermercados e levou pessoas a estocarem arroz em casa, além de pagarem muito mais caro por ele. Mas agora o agronegócio acusa o governo de ter inflacionado o arroz ao ter anunciado o leilão da Conab e ter zerado as taxas de importação do produto.
Além de tudo isso, depois que o Governo Federal anunciou a suspensão do leilão – em resposta à especulação de preços dos países do Mercosul – o agronegócio passou a noticiar que o leilão havia sido suspenso em função da solicitação dos produtores junto ao governo federal. Mas o fato é que a suspensão se deu por conta dos altos preços praticados pelos países vizinhos. Daí a alíquota zero do imposto, que atrairá importação da Indonésia, por exemplo.
Mas não só o arroz é tema de uma chuva de desinformação. Também o destino das doações arrecadadas para as vítimas tem sido questionado pelos disseminadores de mentiras. Anteriormente havia sido espalhada a informação de que os Correios não estariam destinando as doações que estavam sendo recebidas em suas unidades espalhadas pelo Brasil. Isso desestimulou algumas pessoas a realizarem as doações, e também a duvidar da seriedade da empresa estatal.
Agora, a mais recente onda de postagens nas redes sociais – disseminada primeiramente via aplicativo de mensagens – diz que “as doações estão sendo direcionadas para acampamentos de Sem Terra, estão confiscando para o PT distribuir para prefeituras petistas.” As mensagens envolvem inclusive uma suposta participação da Polícia Civil gaúcha “para barrar doações e direcionar para galpões onde as lideranças petistas dão o destino que eles quiserem.”
Cabe aqui destacar que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem sido um grande parceiro da população gaúcha, junto a outros movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), na distribuição de cestas de alimentos, quentinhas com refeições, resgate de desabrigados, assistência médica e tantas outras iniciativas para amenizar um pouco o sofrimento das pessoas afetadas pelas chuvas no RS.
O fato é que são muitas as notícias e narrativas deturpadas que circulam livremente nas redes sociais e em certos “veículos de mídia” convencionais. Todas essas informações inverídicas só servem para acirrar o clima de contenda e caos em meio a um cenário que – por si só – já é caótico e desolador demais. Um mês depois do início das chuvas no RS e a máquina de fabricar mentiras continua a todo vapor. A pergunta que fica é: até quando a sociedade brasileira continuará engolindo tudo isso?