A comissão de frente da Grande Rio levou uma das cenas mais impactantes à Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2022. Com a agremiação, Exu foi um dos assuntos mais comentados nas redes durante o dia seguinte. A imagem do ator Emerson Dalva circulou o mundo, mas toda a performance que abriu o desfile da Grande Rio fez a plateia vibrar naquela noite de carnaval.

Com o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora homenagearam o orixá. A comissão de frente trouxe Exú no topo do planeta com suas quartinhas, a cabaça balançando simulando a incorporação e uma atuação impecável dos componentes. É Exú sendo mostrado com dedicação merecida. Confira abaixo:

Geralmente Exu é associado à figura do diabo no imaginário cristão. “Exu não é diabo. A maioria das pessoas não sabe o que realmente é o Exu, não estudou o Exu”, explicou o zelador espiritual Danilo de Oxóssi ao G1, em frase que se espalhou por diversas manchetes nos noticiários do dia seguinte. “Exu é o orixá, é o guardião, é o primeiro que come na mesa dos orixás. O último é Oxalá, que é o rei de todos os orixás. E Exu come primeiro do que ele”.

“Exu é quem abre os caminhos da gente, é quem traz a prosperidade, quem traz a fartura para a sua casa. Todo mundo cultua Exu na África pois Exu é um guardião de todos os orixás. Ele é o guardião da gente”.

O desejo de Danilo de Oxóssi, que também é integrante da Grande Rio, é que depois que a escola passasse pela Sapucaí, o público tivesse outra visão de Exu, desmistificando os estereótipos negativos.

“Exu é uma divindade complexa”, disse o carnavalesco Gabriel Haddad também ao G1. “É energia circular e infinita, movimento, luta, insubmissão, mudança, que se transforma em incontáveis entidades e que tem muito a ver com a nossa ancestralidade. Mas que é visto com restrição por muita gente. O enredo deste ano, como dos anteriores, visa a desconstruir essa imagem estereotipada, o racismo religioso, a intolerância e a demonização de religiões como o candomblé, a umbanda e as macumbas. Por isso, as sete chaves, para abrir o conhecimento sobre Exu”.

Grande destaque da comissão de frente, o ator Emerson Dalva chamou a atenção com sua interpretação e expressividade. Em entrevista no Estúdio Globeleza após o desfile, Emerson disse que contou com a ancestralidade e a proteção de diferentes religiões e vivências de seu projeto social com crianças. “Eu tô aqui por antes, pelo que vai vir agora e o depois”, afirmou.

Cria de Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro, o ator contou em entrevista ao Extra que já viveu caboclos e pretos velhos na avenida, além de outro Exu, na comissão de frente do Salgueiro, no carnaval de 2016. Sua família tem representantes de diversas religiões, incluindo uma avó umbandista e mãe evangélica.

“Não é só eu que estou aqui, sou eu e muita ancestralidade, minha tataravó filha de escravo”, disse ele. “É meu projeto social, minhas crianças, eu desenvolvo um projeto social de futebol no meu bairro. Eu não estou só aqui por mim tô aqui por antes, pelo agora e o que vai vir depois”.