Por Igor Serrano

Pelada, racha, rachão, baba… Não importa a região do Brasil, em algum momento você já se deparou com algum termo para a prática do futebol recreativo. Mas quando a brincadeira fica “séria” e partidas e campeonatos disputados com frequência (ainda que de forma não profissional), o futebol de várzea, de subúrbio (RJ) ou “peladão” (AM e MT) se torna a realidade de diversos praticantes dos pontapés na bola do país, tema da nova exposição do Museu do Futebol.

Inaugurada em 29 de novembro, com curadoria de Alberto Luiz dos Santos e Diego Viñas, “Vozes da Várzea” traz um olhar sobre o cosmo cotidiano que pulsa em todos os cantos da cidade de São Paulo, movimenta a economia local e tem significado muito maior que uma simples partida ou campeonato para as populações periféricas que o vivem.

Ao longo de cinco seções (“Campos e Resistências”, “Lembrar é resistir”, “Economia da Várzea”, “Chega pra somar” e “Culturas em Campo”), contando com recursos de audiodescrição, libras e tradução para o inglês e o espanhol, o visitante poderá conhecer um pouco mais do universo onde empresas de uniformes chegam a produzir para equipes cerca de 480 mil camisas em mais de incríveis 720 mil metros de tecido. E por falar em camisas, elas possuem um espaço especial na mostra com um gigantesco varal exibindo oitenta uniformes das mais variadas e diversas agremiações de futebol de várzea de São Paulo.

A várzea

Para o Dicionário Michaelis, várzea, dentre outras definições, é compreendida como “terreno baldio, por vezes às margens de algum rio, utilizado como campo de futebol por equipes amadoras”. A primeira partida de futebol, que se tem registro, em solo nacional ocorreu justamente num campo de várzea, o da Várzea do Carmo, centro de São Paulo, em 1895, organizada por Charles Miller, segundo a maioria dos pesquisadores.

“Desde que o futebol é futebol, ele nasceu varzeano e a várzea, dentro da maior cidade da América Latina, sempre foi e é até hoje um símbolo de resistência”, afirma o jornalista Diego Vinãs. Ele se apaixonou pelo tema na faculdade, transformou a admiração em um documentário sobre o dia-a-dia do Grajaú para seu TCC e mais tarde criou um site especializado, o Varzeapédia. Sobre o trabalho junto ao Museu do Futebol, é categórico ao afirmar ser “a maior exposição de futebol de várzea da história do Brasil! Nunca teve uma exposição de futebol de várzea tão grande, significativa e atual como essa”.

A relação de Alberto Luiz dos Santos com o futebol de várzea começou ainda na infância, quando acompanhava da beira dos campos às partidas do time em que seu pai jogava, e se manteve na juventude. Anos mais tarde, em 2016, a pesquisa acadêmica reacendeu seus laços com o futebol amador da cidade de São Paulo. Sua tese de doutorado “O samba como patrimônio cultural em São Paulo: as batucadas de beira de campo e o futebol de várzea” serviu de inspiração para a “Vozes da Várzea”. Em sua opinião, o maior desafio ao longo da preparação do trabalho junto ao museu foi “mobilizar, escolher e colocar na exposição conteúdos que fossem representativos para todo mundo que fosse da várzea”.

Informações e visitas

Localizado no Estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller s/nº), o Museu do Futebol não abre nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e 1º de janeiro. O funcionamento regular é de terça a domingo das 9h às 18h. Às terças, a entrada é franca. “Vozes da Várzea” está aberta a visitação até 27 de abril de 2025.