Uma pesquisa recente do Datafolha realizada com evangélicos na cidade de São Paulo revelou que muitas das pautas defendidas pelo bolsonarismo não são necessariamente compartilhadas pela comunidade religiosa de maior crescimento no país.

Temas como armamento da população, homeschooling (educação escolar em casa) e a defesa da prisão para mulheres que decidem interromper a gravidez são cada vez menos uma agenda majoritária. A maioria também deixou de apoiar a política de guerra de Israel.

Educação sexual nas escolas

A pesquisa também revelou que, ao contrário do que prega o bolsonarismo, a maioria dos evangélicos é favorável à educação sexual nas escolas. São 74% que concordam com o tema sendo abordado nas instituições de ensino, enquanto 25% discordam.

Acolhimento a homossexuais e transsexuais

Em relação às pessoas homossexuais e transsexuais, os evangélicos paulistanos também apresentam visões complexas. A pesquisa revelou que 57% são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apenas 26% a favor, 13% indiferentes e 5% não souberam responder. No entanto, a maioria acredita que as igrejas devem acolher homossexuais e transsexuais, com 86% concordando com essa postura, contra apenas 12% que discordam.

Foto: Ricardo Stuckert

Aborto: condenação e controvérsia sobre prisão

Quando questionados sobre o aborto, a maioria dos evangélicos paulistanos condena a prática. A pesquisa mostrou que 68% são contra a descriminalização do aborto, um percentual quase três vezes maior do que os 23% que se dizem a favor; 4% são indiferentes e 5% não souberam responder.

No entanto, a visão muda quando a questão envolve a prisão das mulheres que abortam, uma pauta que ganhou destaque nos últimos meses devido a um projeto de lei na Câmara dos Deputados que buscava penalizar ainda mais a prática. Nesse caso, 53% dos evangélicos são contra a prisão das mulheres que realizam abortos, enquanto 29% são a favor. Os indiferentes somam 7% e os que não sabem responder são 11%.

Maioria não quer apoio do Brasil a Israel em guerras

A pesquisa revelou que a maioria (53%) discorda que o Brasil deva apoiar Israel em todas as suas guerras. Desses, 34% são totalmente contrários e 19% discordam parcialmente da premissa. Apenas 38% dos entrevistados concordam com a defesa irrestrita de Israel, sendo que 23% o fazem integralmente e 15%, em parte.

Entre os evangélicos que votaram em Jair Bolsonaro (PL), o apoio a Israel em conflitos aumenta para 49%. Esse segmento se destaca nas manifestações conservadoras, onde bandeiras de Israel são frequentemente vistas ao lado das do Brasil e dos Estados Unidos. O discurso pró-Israel é comum em muitas igrejas, motivado por razões ideológicas, políticas e teológicas.

Armamento da população

Uma das marcas do governo de Jair Bolsonaro, a defesa do armamento da população, também registra dissonância junto aos evangélicos. De acordo com a pesquisa, 66% são contra os cidadãos terem armas para se defender, enquanto 28% são a favor, 4% são indiferentes e 2% não souberam responder.

Homeschooling

Outra pauta abraçada pelo bolsonarismo é o homeschooling, ou a possibilidade de crianças estudarem em casa. Esta prática é vista como uma forma de evitar o que os apoiadores de Bolsonaro classificam como “doutrinação” por parte dos professores. Entretanto, a maioria dos evangélicos paulistanos é contra essa política: 77%, enquanto apenas 19% são a favor.

A pesquisa do Datafolha entrevistou 613 paulistanos entre os dias 24 e 28 de junho.