“Eu precisava mostrar o que estava vendo”. Confira relatos de fotógrafas no front da pandemia.
Papo NINJA reuniu as fotógrafas Marília Quinderé e Rafaela Araújo, que registraram cotidianos das equipes de saúde no Ceará e na Bahia.
Registros que contam histórias de dor e superação. O Papo NINJA organizado pela NINJA Foto neste domingo (4) trouxe os relatos de duas mulheres fotógrafas, do Ceará e da Bahia, que passaram as portas de acesso das UTIs para retratar ao mundo o colapso dos sistemas de saúde no Brasil durante o agravemento da pandemia da Covid-19. Marília Quinderé, em Fortaleza e Rafaela Araújo, em Salvador, estiveram sob duas fronteiras no exercício da fotografia: o acesso às salas de terapia intensiva onde pacientes são intubados e uma fronteira ética, quando a profissional precisa decidir a hora de dar o clique ou respeitar um momento de dor, aflição, angústia.
“Antes eu tava acompanhando somente nas redes. Quando eu saí pra ruas, eu ficava muito inquieta e senti a responsabilidade de mostrar para outras pessoas aquilo que eu estava vendo”, disse Rafaela. “A fotografia é uma ferramenta crucial na construção de uma memória. Sem dúvida tudo o que eu vi e vivi foi um choque e está sendo até hoje”.
Ela conta quando acompanhou pacientes no chamado “griparão”. “Ali acontece de tudo, intubação, entra e sai de paciente. Uma senhora precisou ser intubada e a médica Dra Ana beatriz ligou para o familiar de madrugada. Eu fiquei travada, vendo tudo diferente. Receber a ligação de uma médica de madrugada para informar que seu parente será intubado… A médica fez uma oração e começou a se preparar para intubação”, conta. “A paciente teve uma parada cardíaca e eu travei. Eu não sabia ali se registrava ou não. Os médicos estavam aflitos para trazer a paciente de volta. Ver isso… eu respeitei a privacidade, foi muito forte”.
“A única coisa que eu consegui fazer naquele momento foi ir até a coordenadora e falar: “obrigada por tudo, por tudo o que vocês estão fazendo aqui”.
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Para Marília, o processo foi diferente, já que ela já atua como fisioterapeuta e conhece a realidade do sistema de saúde, ainda que o atual momento seja incomparável. Ela utilizou a fotografia como forma de relatar o que ela mesma via dentro das enfermarias já que percebia, em reportagens da regiãi, que o trabalho de fotógrafos se restringia muito à porta do hospital.
“O ponto de partida foi uma recomendação da revista Zoom, de um trabalho de uma enfermeira norte-americana que registrou a equipe de saúde do Hospital de Seattle. Eu vi essas imagens e senti necessidade de fazer o mesmo no hospital onde eu trabalho”, contou Marília. “Eu entrei com um pedido formal no hospital e solicitei a autorização de imagem”.
Durante a conversa, ela também relatou momentos de angústia, inclusive o registro de um paciente que veio a óbito e ela decidiu por não publicar. Mas também trouxe relatos de momentos de superação que precisavam ser compartilhados.
“Eu lembro de um registro do processo de pronação, quando o paciente está intubado e a equipe toda se reune para fazer a pronação”, disse. “É última tentativa de melhor o índice de oxigenação do paciente. A equipe toda está em prol de um ser humano. A foto chamou atenção do hospital e meu trabalho começou a ser mais aceito”.
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Confira abaixo o debate na íntegra:
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