Eu já vi o Brasil ganhar uma Copa
Na minha cabeça o jogo durou cinco minutos e eu fiquei o tempo inteiro sentada no mesmo lugar esperando que um gol acontecesse
Por Paula Cunha
A primeira vez que vi o Brasil ganhar uma copa foi em 1994. Acho até que essa é a primeira Copa do Mundo que eu lembro de ter vivido, não consigo pensar em nenhuma anterior a essa. Eu era adolescente e tinha uma camisa amarela que usava em todos os jogos. Eu nunca tinha ligado pra futebol até vir morar em São Paulo: aqui todo mundo falava de futebol e todo mundo tinha um time, então o futebol começou a fazer parte da minha vida. E como eu sempre gostei de dormir tarde, acabei me apaixonando pelo São Paulo assistindo à Libertadores com o meu pai e tive tanta sorte que meu time ganhou dois anos seguidos. Sabia como era a sensação de torcer para meu time do coração, mas ainda não tinha torcido pelo Brasil e assisti a todos os jogos da Copa dos Estados Unidos. Lembro da vitória contra os americanos no quatro de julho, lembro de como gostava da dupla Bebeto e Romário.
Em 1994 você ligava a TV e ouvia que o Brasil tinha se tornado tricampeão em 1970 e que desde lá não ganhava uma Copa. Pra mim, uma menina de doze anos, isso parecia uma vida, era mais tempo do que eu conseguia imaginar. Mas meu avô falava muito do tricampeonato e também me contou que na Copa de 1950, primeira copa no Brasil, ele e minha avó foram assistir ao jogo, Brasil e Uruguai no Maracanã, a final. Minha avó estava grávida de seis meses da minha mãe e foi ali que ela passou a ser considerada pé frio para qualquer jogo do Brasil. Mas minha mãe não se chateava e fazia piada dizendo que minha avó tinha passado por emoções tão fortes naquele dia, que ela já tinha nascido assustada.
Lembro da final contra a Itália: toda a minha família na sala de casa com meus tios e primos e a gente não podia gritar ou comemorar alto porque meu primo era bebê e tinha medo. Na minha cabeça o jogo durou cinco minutos e eu fiquei o tempo inteiro sentada no mesmo lugar esperando que um gol acontecesse, mas nada aconteceu, ninguém fazia gol. Galvão Bueno falava: “se empatar é pênalti” e eu pensava: quantos pênaltis vão precisar pra decidir isso? Eu nunca tinha visto um jogo de futebol tão difícil de ser decidido, parecia que nada saía do lugar, eu não enxergava meus jogadores favoritos em campo.
Então o jogo acabou, zero a zero. Os jogadores, todos eles, começaram a se reunir em partes diferentes do campo e os brasileiros formavam uma corrente com cada jogador com o braço em volta do ombro do outro. Era uma cena dramática e meu pai chorava em casa. Começaram as cobranças e eu não queria ver o que estava acontecendo porque aquela tensão, antes de cada jogador chutar, era demais pra minha pobre versão de torcedora aos doze anos. Alguns gols eu vi, outros me escondi. Mas estava sentada na mesma cadeira que tinha assistido ao jogo todo quando Roberto Baggio, melhor jogador do mundo em 1993, perdeu o pênalti pra Itália. Nunca vou esquecer dele parado na frente do gol colocando as mãos na cintura, decepcionado, chocado. Foi uma cena forte pra mim. Mas também lembro da alegria de ouvir: é teeeeeetra, é teeeeetra e ver Galvão Bueno pulando abraçado com Pelé. Foi muita alegria, uma energia nova que eu nunca tinha sentido, ver todo mundo em volta de mim comemorando a mesma coisa. Naquele dia fui dormir mais cedo do que o costume, cansada, ouvindo os barulhos da cidade que ainda comemorava e louca pra contar sobre aquele dia.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube