Em uma conversa emocionante e profunda, o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença, representante do povo Tupinambá, compartilhou com a NINJA a importância e a relação sagrada que a comunidade tem com o manto, considerado um ancestral vivo e espiritual. Em meio às lutas históricas e contemporâneas pela preservação de seus direitos e territórios, o manto, que estava no Museu Nacional da Dinamarca, se destaca como um símbolo poderoso de resistência e identidade. Após três séculos, o Manto volta ao Brasil após intensa mobilização dos povos indígenas.

A relação sagrada com o manto

“O manto sagrado, para mim e para os outros anciões, é uma força ancestral, uma força espiritual, mas também um ser vivo”, explica o representante Tupinambá. Para a comunidade, o manto não é apenas um artefato, mas um ser sagrado que carrega a força e a memória dos ancestrais. É comparado a uma árvore que, mesmo após ser queimada, brota novamente de suas raízes, simbolizando a resiliência e a perpetuidade do povo Tupinambá.

O conselho relata que, apesar dos inúmeros massacres e da invasão de seus territórios, o povo Tupinambá mantém uma conexão profunda com suas raízes e tradições.

“O manto veio com uma força ancestral muito grande. É como se fosse um ser que vem para nos orientar, fortalecer e demarcar nosso território”, afirma. Este simbolismo é particularmente significativo em um contexto onde a história e os direitos dos povos indígenas são frequentemente apagados ou desrespeitados.

O processo de recepção do manto

A devolução do manto sagrado pelo governo da Dinamarca marcou um momento importante para o povo Tupinambá. No entanto, o processo de recepção não ocorreu sem desafios. A ancestralidade Tupinambá, através de figuras como Mo Tarã, uma mulher valente e guerreira, sempre enfatizou a importância do manto. “Ela dizia: ‘Minha filha, quando o manto chegar, muita coisa vai mudar. Esse manto é sagrado do povo. Ele não é sagrado para ficar no museu'”, relembra o membro da comunidade.

Em 2000, Mo Tarã visitou o manto e foi um momento de forte emoção e reconexão. Hoje, embora o manto esteja no Rio de Janeiro, ainda não foi totalmente integrado à vida e ao território do povo Tupinambá de Olivença. “Ele está dizendo: ‘Eu estou aqui, eu vim para os meus'”, destaca o conselho, reiterando a importância de que o manto seja verdadeiramente acolhido pela comunidade.

Reivindicações e contribuições

A principal reivindicação do Conselho Tupinambá é o respeito e a recepção adequada do manto pelos povos indígenas. “Estamos aqui há mais de 400 anos. Estamos aqui antes de 1500. Não precisamos mais de marco temporal”, afirma o representante, sublinhando a necessidade de reconhecimento e proteção dos direitos indígenas, e chamando atenção para o debate que acontece no Congresso Nacional.

A devolução do manto sagrado pelo governo da Dinamarca não foi acompanhada do devido respeito e consideração pelos povos indígenas, segundo o membro do Conselho Indígena Tupinambá de Olivença. “Quem não teve respeito pelos povos originários foi o próprio Museu Nacional”, afirmou o conselho.

O povo indígena destacou que o Museu deveria ter consultado a comunidade Tupinambá antes de receber o manto, informando a Dinamarca da necessidade de estabelecer uma data adequada para que os verdadeiros donos do manto pudessem ser informados e preparados para a recepção.

“O manto é nosso, é do povo Tupinambá, é do povo originário, é do Brasil”, enfatizou o entrevistado. A crítica centra-se na falta de diálogo e consideração por parte do Museu Nacional, que, segundo ele, deveria ter ouvido as vozes da comunidade indígena. “O Museu Nacional precisava ter nos ouvido”, reiterou.

O Conselho Indígena Tupinambá de Olivença destaca a necessidade de organização interna para decidir como desejam receber e celebrar o retorno do manto. “Nós precisamos estar lá também e precisamos estar juntos”, declarou.