O crescimento da inteligência artificial (IA) acende o alerta para o aumento de campanhas desinformativas, manipulando a opinião pública durante as eleições municipais de 2024. Essa é uma das conclusões do relatório “Election Integrity in the Digital Age: Online Risks and Recommendations for the Brazilian Municipal Elections” (“Integridade eleitoral na era digital: riscos e recomendações on-line para as eleições municipais brasileiras”), produzido pelo projeto Mídia e Democracia, uma iniciativa da Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com a União Europeia, e publicado com exclusividade pela Lupa, agência de checagem.

“As ferramentas orientadas por IA podem criar e disseminar deepfakes e outras formas sofisticadas de conteúdo enganoso sobre candidatos e outras figuras públicas que são difíceis de detectar e desmascarar”, alerta o estudo, ao qual a Lupa teve acesso.

Beatriz Saab, pesquisadora do Democracy Reporting International e coautora do relatório, enfatiza a importância da revisão humana nesse processo. “A gente discute uma combinação de modelos de IA com o olhar humano. Na moderação de conteúdo pelas plataformas, poderia ter uma primeira identificação de conteúdo ilegal, nocivo, por meio de modelos de inteligência artificial, tendo, claro, um time que vai revisar”, explica Saab.

Como exemplo, Saab destaca um caso na Alemanha, onde um estudo encomendado pelo governo identificou uma rede de robôs no X (antigo Twitter) que disseminava desinformação, utilizando um software especializado de monitoramento.

Além da IA, o documento identifica outros cinco riscos de desinformação durante o processo eleitoral. Um exemplo é a disseminação de informações falsas sobre questões climáticas, especialmente após as recentes enchentes no Rio Grande do Sul.

“Narrativas enganosas geralmente minimizam a gravidade do desmatamento na Amazônia, deturpam os impactos do agronegócio sobre a biodiversidade e espalham falsidades sobre os direitos indígenas à terra e as regulamentações ambientais”, destaca o relatório.

Outro tema recorrente é a desinformação sobre o processo eleitoral, com narrativas falsas sobre urnas eletrônicas que têm sido desmentidas desde 2018. Este tipo de campanha visa a minar a credibilidade das eleições. O relatório também aponta desinformações relacionadas à saúde pública e liberdades individuais, incluindo a influência contínua das narrativas falsas da época da pandemia da Covid-19.

O relatório faz diversas recomendações para autoridades eleitorais, plataformas digitais e organizações. Para as autoridades, destaca a necessidade de capacitar agentes locais para conter a desinformação e monitorar a eficácia das iniciativas contra publicações falsas. Já para as plataformas, recomenda aumentar a transparência na moderação de conteúdo e ajustar algoritmos para reduzir a disseminação de informações falsas.

Além disso, enfatiza a importância do trabalho das organizações de verificação de fatos e da sociedade civil na monitorização das tendências de desinformação em tempo real durante as eleições e na promoção da transparência das plataformas.

Os resultados do estudo serão apresentados no 1º Seminário Internacional: Inteligência Artificial, Democracia e Eleições.