Por Renata Renovato

Hoje, 19 de setembro, Paulo Freire, nosso patrono da educação completaria mais um ano de vida, 101 pra ser mais precisa. Apesar de não estar mais aqui, em presença física, suas ideias seguem vivíssimas e muito atuantes em leituras críticas, dentro e fora da educação, até os dias de hoje.

Quem nunca ouviu falar de Paulo Freire? Seja para elogiar ou para criticar, Paulo Freire é uma figura reconhecidamente importante para a educação não apenas no Brasil, mas mundo, o teórico é um dos autores das humanidades mais citado em trabalhos acadêmicos em todo o planeta.

Pela força de suas reflexões e métodos para educação, este filósofo brasileiro, foi e ainda é alvo de muita imaginação e equívocos a seu respeito. Vale lembrar que, no Brasil, poucas pessoas realmente se aventuram a ler seus quase 40 livros para, de fato, conhecê-lo. Fardo que pensadores mais conhecidos e comentados carregam, pois a leitura de figuras muito faladas e imaginadas, ainda se faz a partir de resenhas e deturpações.

Um destes equívocos que existe, no Brasil, a seu respeito, é sobre a crença de que seu método educacional é aplicado nas escolas brasileiras. Apesar de ele ser o nosso, tão querido, patrono da educação , estamos muito distantes de praticar sua metodologia educacional em larga escala. Mas, seguimos na luta por uma educação libertadora, e de qualidade, que agregue a todos os grupos, sem dirimir as diferenças culturais e sociais de cada um, de acordo com o que ele sempre lutou.

Outro equívoco, é o de que Paulo Freire é exclusivamente o detentor de um método pedagógico. Freire, além de ter proposto a prática educativo-progressista, como um crítico profundo do ensino que tem como base a simples transferência de conteúdo, chamado por ele de ‘ ensino bancário’ possui uma vasta análise a respeito da sociedade e da educação brasileira, da qual ele fez parte, e afirmou que ensinar é criar possibilidades para a criação, produção ou construção de conhecimento, característica de uma sociedade mais justa e democrática. Ou seja, Paulo Freire, além de educador, era um filósofo da educação.

Ao atravessar as fronteiras da educação, através de um método que ele mesmo colocou em prática com os camponeses pernambucanos (seus conterrâneos) o educador foi além das reflexões, fazendo de sua filosofia uma teoria e práticas simultâneas.

Por sua filosofia revolucionária, viveu um exílio, de 15 anos, durante a ditadura militar, e durante este tempo, foi professor da universidade de Santiago, no Chile, tendo sido nomeado em 1969, especialista pela Unesco, passou 10 meses em Harvard e seguiu para a Europa, onde trabalhou para o Conselho Mundial das Igrejas, na Suíça, assessorando, também, programas de educação de adultos em países africanos, tendo fundado e mantido o IDAC ( Instituto de Ação Cultural).

Ao regressar ao Brasil, após a anistia, em 1980 foi, ainda, professor da PUC-SP e da Universidade Estadual de Campinas, secretário de educação da cidade de São Paulo no governo de Luiza Erundina, além de ter ganhado o título de cidadão paulistano e doutor honoris causa pelas universidades Aberta de Londres , de Louvain, da Bélgica, de Genebra, da Suíça e de Michigan nos EUA.

Em meio a todos esses acontecimentos notórios em sua vida, há, ainda, um encontro que considero digno de nota. Freire e a teórica feminista norte-americana bell hooks se encontraram na universidade de Califórnia, momento que a feminista afirmou ter marcado sua vida.

Paulo Freire a conheceu durante uma palestra, na qual hooks estava presente, a contragosto dos organizadores, que devido seu posicionamento crítico, tentaram evitar um ‘possível desconforto’. Contudo, Freire ouviu atentamente as críticas da feminista e respondeu a todas elas, reconhecendo, humildemente, seus limites a respeito dos temas levantados, dialogando com a autora de maneira aberta e construtiva.

Freire e hooks levaram essa conversa para além daquele encontro formal e, a partir daquele momento, a vida de ambos seria marcada por suas presenças críticas na maneira de construir seus pensamentos. hooks como uma feminista pensante e atuante, passou a aprofundar suas teorias para a educação, escrevendo uma trilogia para a educação crítica, inspirada nas ideias de Paulo Freire.

Este encontro, além de ter permitido a hooks uma construtiva comunicação com o teórico que a inspirou enormemente, em suas teorias, fez com que Freire, mais uma vez, demonstrasse o poder de um diálogo crítico aberto, promotor de conhecimento. Afinal de contas, ao ter sido chamado atenção para sua visão crítica, porém, ainda machista em muitas de suas reflexões, como ainda era comum entre os intelectuais da época, Freire trabalhou em prol de uma maneira de incluir as mulheres em suas reflexões , métodos e teorias que, a meu ver, enriqueceram tanto sua filosofia, quanto seu ser.