Por Clara Maria*

Para começar, preciso contextualizar de onde eu falo. Me chamo Clara Maria, sou uma mulher lésbica, cis, branca, estudante de educação física e hoje presidente da União dos Estudantes de Pernambuco. Todos os pontos que aqui vou relatar devem ser levados em conta a partir do recorte racial e econômico em que me encontro.

“Sair do armário é igual a cometer um crime”. Com essa frase gostaria de iniciar a primeira barreira que nós enfrentamos, pois “sair do armário” nunca foi apenas sobre nós, mas sim um ato corajoso de nos mostrarmos para a sociedade, não uma única vez, mas todos os dias! Precisamos lidar dia a dia com o objetivo de desfazer o patriarcado enraizado no Estado brasileiro. Trata-se de pensar um formato de Estado que possa finalmente ser voltado para a promoção da justiça social e da cidadania inclusiva de todas e todos em nosso país. Hoje a opressão de gênero, raça e classe ainda é muito presente, por isso me parece óbvio que precisamos criar espaços reflexivos para consolidar estratégias de aprofundamento para as transformações necessárias.

De que forma podemos transformar essa cultura patriarcal para que nos caiba? Enxergo na educação o braço mais forte, até porque conhecimento é poder! A história conta que a ignorância sempre foi causa de muitos dos atrasos e submissões de diversos povos e indivíduos, por isso o conhecimento e os espaços públicos eram negados aqueles que se colocavam ao contrário do padrão esperado pelo simples fato de serem mulheres ou pior ainda, mulheres que amam outras mulheres.

É por isso que eu, enquanto mulher lésbica, escolhi lutar por um educação de qualidade, com acesso e permanência, que abra portas para essas mulheres se reconhecerem e ocuparem os espaços que sempre nos foi negado, pois só assim avançaremos no projeto de sociedade que queremos e nos caiba, longe da violência e do preconceito. Nada mais urgente do que lutar pela universalização da educação, porque aprender é empoderar e exercer o poder sobre si mesmo, sobre sua condição, seja ela social, física ou intelectual. É aceitação e pertencimento! Educação tem haver com transformação. Como já diria Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo!”.

O desafio é informar à sociedade que existem outras formas possíveis de organizar a vida, outros sentimentos, outros mundos fora da heteronormatividade obrigatória, tornando possível e visível a existência de mulheres lésbicas em diferentes contextos e posições, confrontando assim a “política do silêncio” e da invisibilidade, que sempre nos foi colocado.

Mesmo hoje muitas de nós tendo ocupado espaços tão importantes para a construção de uma sociedade, como no parlamento por exemplo, ainda passamos por diversas opressões por sermos quem somos. Não é a toa ou mera coincidência o número de casos de ameaças relatados por deputadas (estaduais e federais), ameaças de estupros corretivos, morte, violência e todos contendo frases como “ensinar a ser mulher”, “voltar para onde não deveria ter saído”… nos querem dentro do armário, dentro de casa, submissas e caladas!

Esse espaço não nos cabe mais! Precisamos sair e ocupar cada vez, correr e gritar o mais alto possível até que nos escutem e entendam quem somos e que estaremos aqui, eles gostando ou não. Que amaremos, teremos família e existiremos, sem precisar ter medo!

Se eu puder dar um conselho, se organizem e venham com a gente ocupar tudo!

*Clara Maria é graduanda em Educação Física, presidente da UEP e militante da UJS

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