Estudantes gaúchas desenvolvem absorventes biodegradáveis que são mais baratos e ecológicos
Com um preço muito mais acessível do que o convencional, as estudantes do IFRS querem ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, com uma alternativa para a pobreza menstrual
Com um preço muito mais acessível do que o convencional, as alunas do IFRS querem ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, com uma alternativa para a pobreza menstrual
Por Mauro Utida
As estudantes do último ano do ensino médio do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Laura Nedel Drebes, 19 anos, e Camily Pereira dos Santos, 18 anos, criaram um absorvente composto por fibras vegetais para substituir o algodão e, além de ser ecológico, tem condições de ser comercializado a R$ 0,02 por produto.
Com um preço muito mais acessível do que o convencional, as gurias querem ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, com uma alternativa para usar durante a menstruação.
O protótipo foi apresentado com destaque na 20ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em março, e ganhou a medalha de ouro na Genius Olympiad, feira de ciência americana de Nova Iorque, que ocorreu virtualmente. Agora, o trabalho será apresentado na Semana Mundial da Água, em setembro, no Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, Capital da Suécia, junto com outros 39 países.
A ideia surgiu quando Camily ficou sabendo que a própria mãe não teve acesso a absorventes na adolescência e que precisou recorrer a outros métodos durante seu ciclo menstrual. Essa foi a primeira vez que ela se deparou com a questão da pobreza menstrual, que afeta milhares de mulheres ao redor do mundo. “Eu não imaginava que o problema estivesse tão próximo de mim. Assim, comecei a formalizar a ideia da pesquisa”, explicou.
Com a preocupação com o meio ambiente, Camily queria desenvolver um produto ecológico e que fosse acessível às mulheres em situação de vulnerabilidade. Foi então que ela procurou a professora Flávia Twardowski para ser a orientadora do projeto e ela convidou Laura, que pesquisava o desenvolvimento de plásticos biodegradáveis, para fazer parte da equipe.
O processo
O protótipo foi desenvolvido com menos algodão, que foi substituído por dois resíduos da agroindústria: fibras da bananeira e do açaí de juçara. A segunda etapa foi o desenvolvimento de um plástico biodegradável utilizando os resíduos da produção de cápsulas de remédios farmacêuticos. A última etapa foi o desenvolvimento de um invólucro com sobras de tecidos das costureiras da região objetivando deixar o produto confortável.
O protótipo foi um sucesso. Na camada absorvente composta por fibras vegetais para substituir o algodão, os testes de capacidade absorvida verificaram uma eficiência 60% maior do que os produtos já comercializados. E, levando em consideração que os plásticos convencionais levam mais de cem anos para se decompor no meio ambiente, o utilizado pelas alunas, de biofilme, leva 16 dias para sua decomposição em 50%.
As jovens cientistas explicam que as mulheres descartam dez mil absorventes durante suas vidas, e que esses produtos demoram entre 100 e 500 anos para se decompor na natureza, em razão de seus componentes plásticos e aditivos químicos.
Com equipamentos simples para a produção do produto e materiais que contribuem para o seu baixo custo, as alunas calcularam, através do método de Markup, que o absorvente pode chegar ao mercado a um preço acessível, por R$ 0,02. Segundo elas, já surgiram empresários interessados em entender o processo e adquirir o produto.
“Gostaríamos que nosso protótipo fosse uma referência de produto sustentável capaz de atingir as mulheres em situação de pobreza menstrual. Para isso, todo esse conhecimento gerado precisa ser aplicado industrialmente”, disseram as alunas.
Para a orientadora, a experiência de orientar a Laura e Camily no desenvolvimento dos absorventes sustentáveis tem sido incrível. A professora diz que as alunas demonstram não apenas preocupação com o tripé da sustentabilidade, com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, mas em trazer soluções para problemas que afetam a sua comunidade e consequentemente o seu dia a dia. “As gurias são criativas e sempre dispostas, inovando em toda dificuldade que surgiu durante o processo”, elogiou.
Prêmio internacional
O próximo passo é levar o projeto dos absorventes para etapa internacional de Estocolmo, onde será o único representante brasileiro no prêmio Jovem da Água de Estocolmo. As estudantes do Campus Osório do IFRS tem recebido apoio da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), através do programa JPS.
Elas pedem ajuda para a votação popular que ocorre através do link. Procure no campo buscar (lupa) por sustainpads.
Confira o vídeo de apresentação para o prêmio Jovem da Água de Estocolmo.