Estudantes foram às ruas em todo Brasil. O que eles querem?
Nas escolas brasileiras falta de tudo, cadeiras, mesas, vagas, sabonete, copo descartável entre outros, a pouca verba que ainda vinha para a escola para comprar materiais básicos diminuiu ainda mais.
Estudantes de diversas cidades do Brasil foram as ruas em crítica à comemoração do Golpe Militar de 1964 e à política armamentista de Bolsonaro. As manifestações emergiram do caldo de revolta e indignação com fatos recentes, como o massacre em Suzano (SP) e declarações do presidente da República.
O que eles querem? Acesso a educação pública, gratuita e de qualidade.
O sucateamento das escolas tem se intensificado em todo o Brasil.
Nas escolas brasileiras falta de tudo, cadeiras, mesas, vagas, professores, produtos de higiene, descartáveis, entre outros, a pouca verba destinada para as instituições para comprar materiais básicos diminuiu ainda mais.
Além disso, em São Paulo, a gestão do governador João Doria (PSDB) firmou contrato de fornecimento de carne para a merenda escolar com três frigoríficos que tiveram atividades suspensas pelo Ministério da Agricultura. O produto de ao menos uma das empresas continuou a ser entregue a colégios estaduais mesmo após a aplicação da penalidade.
No meio dessa situação, o Governo Federal publicou, na última sexta-feira, dia 29 de março, o decreto como parte de um corte geral de mais de R$30 bilhões do Orçamento da União em 2019.
Os recursos para a Educação foram reduzidos em R$ 5,839 bilhões para este ano, o maior dos cortes apresentados pelo decreto. O total em despesas discricionárias previsto originalmente para área na Lei de Orçamentária Anual (LOA) de 2019 era de R$ 23,699 bilhões, e passou agora para R$ 17,793 bilhões.
Tal medida aprofunda o caso que domina a educação em todo o país, a exemplo do que acontece no estado de São Paulo, onde até mesmo os kits escolares não foram enviados para milhões de alunos, a merenda escolar é de baixíssima qualidade e os salários dos professores seguem congelados por cinco anos.
Entrevistamos duas lideranças dos movimentos estudantis, Pedro Lucas Gorki Azevedo de Oliveira, presidente da UBES e Camila Fernanda Cardoso Teixeira, integrante da UBES, sobre qual situação da educação no Brasil hoje e quais suas demandas. Eles responderam!
Camila Fernanda Cardoso Teixeira tem 16 anos, mora em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, e está no movimento desde a primavera secundarista, mas começou a atuar mais ativamente durante o período das eleições de 2018. Para Camila, “a situação da educação brasileira está precária. tanto a publica quanto a privada.”
MN: O que falta nas instituições de ensino no Brasil hoje?
Camila: A educação pública esta precarizada em todos os aspectos, desde a infraestrutura até a falta de professores. E o fato do pouco envolvimento das escolas privadas em movimentos estudantis, deixa muito a desejar.
“Eu como estudante federal sou muito privilegiada em relação a isso e luto para que todas as escolas públicas tenham a qualidade e as oportunidades que o Instituto Federal tem.”
MN: Quais são os objetivos dessas mobilizações? O que os estudantes querem?
Camila: Nossos estudantes querem condições de estudar e ter um futuro pela frente. E nós estamos lutando por isso, por direitos básicos que estão nos negando: direito a liberdade de expressão nas nossas escolas para nossos professores e alunos, direito de ter uma estrutura ao menos suficiente passar um turno e direito à alimentação.
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Pedro Lucas Gorki Azevedo de Oliveira tem 18 anos, é presidente da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, mora em Natal, no Rio Grande do Norte e faz parte do movimento estudantil desde os 12 anos de idade.
Quanto questionado sobre como estava o cenário da educação brasileira na atual conjuntura, o estudante afirma que “a situação da educação no Brasil é uma das mais perceptíveis demonstrações da desigualdade social.”
“Existe um abismo na qualidade do ensino oferecido à classe trabalhadora (os pobres) e aos filhos das famílias mais ricas.”
MN: Qual situação da educação no Brasil hoje?
PG: Quem paga mais, estuda mais. Quem paga mais tem mais acesso ao conhecimento. Uma lógica cruel que estagna a sociedade para manter uma estrutura desigual e desumana.
MN: Quais são os objetivos dessas mobilizações? O que os estudantes querem?
“O que queremos é mudar essa lógica mercantilista de ensino e de sociedade.”
PG: Queremos mudar (e muito) a qualidade do ensino público no Brasil, que hoje passa por uma grande crise intencional e um diagnóstico de muita precariedade.
Queremos tornar o FUNDEB permanente, queremos o cumprimento do Plano Nacional de Educação, queremos mais financiamento à escola e universidade pública, queremos um ensino libertador e emancipador (com uma sala de aula que seja atrativa para a juventude), queremos mais bibliotecas, acompanhamento psicológico aos estudantes e professores, valorização da docência, a modernização dos espaços escolares e não queremos nem mordaças, nem armas e nem censuras.