Por Isabella Rodrigues

Estudantes do Campus Bacanga da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís, ocuparam a Reitoria em protesto contra a falta de infraestrutura e precariedade das residências estudantis. A manifestação começou em 28 de setembro, após mobilizações e debates sem respostas às reivindicações dos estudantes, que buscavam melhorias na universidade.

A precariedade na permanência estudantil foi a principal demanda da ocupação. Uma manifestante chegou a se acorrentar às grades da Reitoria, relembrando um ato semelhante em defesa da casa dos estudantes em 2013. O movimento surgiu como resposta à gestão universitária, percebida como disposta ao diálogo com os estudantes.

Patricia Pinto, 26 anos, estudante de filosofia, educadora popular e uma das lideranças do movimento estudantil, destaca que as demandas principais incluíam a necessidade de manutenção nos centros e na casa dos estudantes, reajuste nas bolsas de permanência, políticas de apoio às estudantes mães e transparência na utilização dos recursos universitários.

Patricia Pinto, estudante de filosofia, educadora popular e uma das lideranças do movimento estudantil. Foto: Lucas Santos

Os protestos de estudantes e professores ganharam força à medida que a ocupação se estendeu. Após quase um mês, a administração universitária foi convocada para uma audiência judicial em 26 de outubro na Justiça Federal para abordar as demandas dos estudantes.

Patricia ressalta a dificuldade do processo de negociação com a universidade e destaca que muitas conquistas foram alcançadas devido à pressão exercida pelos estudantes sobre a reitoria. Entre essas conquistas, estão a aquisição de móveis novos para os estudantes residentes, o compromisso com a manutenção mensal da residência estudantil; a expansão da iluminação pública no campus; aquisição de novos bebedouros; manutenção do piso tátil nos centros; acesso aos processos de licitações da universidade e garantia de salas de acolhimento nos centros para as estudantes mães. “Seguiremos lutando pelas outras demandas que a universidade não nos deu retorno ou prazo”, diz.

Entre as principais dificuldades enfrentadas durante a ocupação estão as tentativas de intimidação por parte da Universidade. “Na primeira semana cortaram a energia, água e impediram acesso ao banheiro do prédio. Tentaram nos trancar na reitoria no fim de semana”, relata Patricia. “Em uma noite, ainda na primeira semana da ocupação, os guardas patrimoniais ficaram passeando entre nós fortemente armados, nos vigiando enquanto dormíamos e colocaram música alta para impedir nosso descanso”. Contra a tentativa de criminalização, os estudantes iniciaram a campanha “lutar não é crime”, que ganhou apoio de professores e até do cantor Zeca Baleiro nas redes sociais.

Contra a tentativa de criminalização, os estudantes iniciaram a campanha “Lutar não é crime”. Foto: Lucas Santos

A desocupação da Reitoria ocorreu em 27 de outubro, após negociações e a formação de grupos de trabalho que se comprometeram a buscar soluções para as demandas levantadas durante a ocupação. Por meio de um comunicado oficial, a UFMA informou que segue tomando providências para garantir melhorias às residências estudantis: “A reitoria, que está muito atenta e comprometida em cumprir tudo que foi definido na audiência, durante a reunião, determinou que fossem realizadas algumas reformas na Casa do Estudante, em caráter de urgência”. Foram criadas três comissões para abordar as demandas apresentadas: Infraestrutura, Assistência Estudantil e Segurança. Cada comissão é formada por três representantes da UFMA e três estudantes.

“Seguimos na luta, agora através de outras táticas de mobilização, mas a luta por permanência estudantil e contra a precarização da educação continua sendo nossa prioridade”, ressalta Patricia. Um dos pontos destacados por ela é a exigência de dissolução do atual Diretório Central dos Estudantes (DCE), que, segundo ela, está alinhado à reitoria, não passou por uma eleição legítima e não representa efetivamente os estudantes.

Patricia enfatiza que as conquistas recentes devem ser encaradas como um combustível para a atuação dos estudantes. “É essencial que essas conquistas sejam combustível de luta para que o movimento não esfrie, pelo contrário, permaneça vivo para lutar por cada vez mais melhorias para a casa dos estudantes e para os campi da UFMA”, completa.