Por Mauro Utida

Nay Mendl Silva de 28 anos mora no Grajaú e Wellington Amorim de Oliveira, de 27, no Jardim Ângela, duas quebradas da zona sul de São Paulo que são divididas por uma represa. Eles se conheceram através da paixão pelo audiovisual e há 10 anos contam histórias e criam narrativas sobre o universo das periferias, LGBT, e das comunidades.

Agora eles têm a oportunidade de fazer estas histórias chegarem mais longe e estabelecer conexões latinoamericanas com a oportunidade de estudarem na  Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV)  de San Antonio de Los Baños, uma conceituada e concorrida instituição de ensino de audiovisual.

A dupla ganhou duas das 40 concorridas vagas entre estudantes do mundo todo, sendo cinco vagas por especialidade. Enquanto Nay irá estudar ‘documentário’, Well entrou para a turma de direção de fotografia. Eles embarcaram no último dia 16 de setembro e já iniciaram o estudo na renomada instituição.

“Nosso processo de acercamento com o cinema ocorreu junto com processos pessoais de nos entendermos no mundo e entre debates políticos, construções dentro dos movimentos negro, feminista e TLGB+, sentimos a necessidade de transformar essa expressão política em obras cinematográficas, usando o poder transformador da arte”, declara a dupla que se conheceu na ONG Instituto Criar de Tv e Cinema e fazem parte da Maloka Filmes, um coletivo TLGB+ criativo de audiovisual.

Em 10 anos de trabalho conjunto, Nay e Well já produziram uma série de projetos premiados, como o longa-metragem “Raízes”, que conquistou o prêmio de melhor filme nos festivais Visões Periféricas e Cinema Negro em Ação, no Rio Grande Sul. Outra obra da qual ele participou é “Perifericu”, longa reconhecido com o prêmio Suzy Capó de obra mais transgressora do Festival Mix Brasil 2019, voltado para o público LGBTQ+. A produção também foi eleita o melhor curta na Mostra Tiradentes em 2020 e recebeu mais de trinta prêmios em festivais nacionais e internacionais.

Em 2022, eles conseguiram realizar um dos sonhos mais antigos do coletivo que fazem parte: construir um festival de cinema comunitário TLGB+ na comunidade onde moram, o PERIFERICU – Festival Internacional de Cinema e Cultura de Quebrada. “Acreditamos na coletividade entre os nossos e que todos os saberes e experiências devem ser divididos em prol do crescimento de nossas comunidades e agora queremos sonhar com esse fazer em Cuba”, destacam.

Desafios

Nay e Well são moradores da zona sul de SP. Foto: Divulgação

Em julho deste ano, os estudantes receberam a notícia que pode transformar a vida e carreira deles. Após passar por um processo seletivo, conquistaram as vagas para estudar por três anos, em San Antonio de Los Baños.

Porém, os estudantes encontraram dificuldades financeiras para conseguir estudar em Cuba, com os custos que inclui despesas de hospedagem e o valor da academia, durante o período do curso, além da alimentação e transporte.

O governo brasileiro mantinha um acordo com a Escuela Internacional de Cine y Televisión e enviava bolsistas para a instituição, entretanto, o Ministério da Cultura suspendeu a parceria em 2017. Com esse obstáculo, a dupla criou um site e organizou uma vaquinha virtual que terminou no início do setembro, com 42% do valor necessário.

Eles conseguiram arrecadar pouco mais de R$ 35 mil e apesar de não conseguirem atingir a meta estipulada, eles embarcaram para Cuba no dia 16 para dar início aos estudos.

Ainda é possível colaborar com a viagem por Pix, utilizando a chave [email protected].

Escola Internacional

A Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) de San Antonio de Los Baños, em Cuba, é uma das mais importantes escolas de cinema do mundo.

Fundada em 1986, a escola já contou com professores como Francis Ford Coppola, Robert Redford, Costa Gavras, George Lucas, Fernando Solanas, Ruy Guerra, Alex Cox, Gabriele Salvatores, Steven Spielberg e entre outros.

Além do reconhecimento formal, a EICTV é uma escola que nasceu com a ideia de fortalecer narrativas do terceiro mundo (países da África, América Latina e Ásia), histórias que poucas vezes tiveram um reconhecimento no cinema.

“Acreditamos que estudar além de um grande aprendizado para o cinema que fazemos é também a possibilidade de expansão de relações e fazer nossos filmes chegarem muito mais longe”, acreditam.