Luiz Fernando de Lima Teixeira, 19 anos, estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) relatou, recentemente, em suas redes sociais um caso de racismo que sofreu dentro da instituição.

Quando tentava entrar no Campus do Pici na última segunda-feira, 17 de junho, foi parado por seguranças do local que pediam que o jovem se identificasse, com um tratamento diferente ao dado a outras pessoas que circulavam pela instituição, segundo Luiz. Após não atender a ordem e seguir caminho, Luiz foi parado novamente.

O aluno diz ter recebido um golpe conhecido como chave de braço e cotoveladas dos seguranças, além de ter sido conduzido a uma sala, onde foi ameaçado com arma de choque.

“Ficavam me ofendendo, dizendo que eu não era ninguém, eu pedia para que tirassem as mãos de mim, que não me enforcassem, pedi socorro”, disse o jovem em relato.

Leia o relato de Luiz:

https://www.facebook.com/luiz.teixeira.69/posts/2288717581212267

Em repúdio ao ocorrido, estudantes da UFC mobilizam um ato contra o racismo dentro da universidade. Em nota, coletivos e movimentos de estudantes da universidade afirmam: “O racismo é uma permanência histórica, estrutural e estruturante da sociedade brasileira. Vivenciado cotidianamente por todos os nossos corpos em diáspora no mundo, os nossos ancestrais resistiam há muito tempo antes de nós”.

https://www.instagram.com/p/BzD-05gHfig/

Leia a nota na íntegra:

POR UMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ ANTI-RACISTA!

Cara UFC racista,

Nós, pretos e pretas do Fórum de Negros e Negras do curso de História da Universidade Federal do Ceará, viemos publicamente por meio desta REPUDIAR e EXIGIR POSICIONAMENTO desta universidade sobre o caso de SEQUESTRO, TORTURA E VIOLÊNCIA sofrido por um estudante preto primeiro semestre do curso de Ciências Sociais desta universidade! Na noite da última segunda-feira, 17 de junho de 2019, o estudante foi questionado pela guarda universitária sobre a sua entrada de bicicleta no Campus do Pici por volta das 19h40. Sendo isso já um completo ABSURDO, visto que a universidade é PÚBLICA e TODAS as pessoas têm direito a ocupar esse espaço que é da SOCIEDADE BRASILEIRA. Mais do que questionar a sua entrada, a guarda universitária não aceitou a sua permanência dentro da instituição e o violentou física, psicológica e moralmente. Agrediu o estudante em público, o levou para uma sala algemado e o torturou! Essas práticas não são novas na universidade brasileira, durante a Ditadura Civil-Militar muito se fazia isso com estudantes. MAS NÓS NÃO VAMOS NOS CALAR!

O racismo é uma permanência histórica, estrutural e estruturante da sociedade brasileira. Vivenciado cotidianamente por todos os nossos corpos em diáspora no mundo, os nossos ancestrais resistiam há muito tempo antes de nós. A instituição universitária, que historicamente não aceita corpos pretos em seu corpo discente e docente, visto que não foi construída para o nosso povo, faz parte dessa estrutura racista. Dos currículos dos cursos à perseguição pelas guardas universitárias: ESSA INSTITUIÇÃO É COLONIAL! A entrada recente de muitos grupos pretos, indígenas e vários outros sujeitos excluídos do perfil dominante branco tem causado incômodo àqueles acostumados à homogeneidade de pensamento e etnia e reafirmamos que NÃO vamos sair daqui! Entramos, queremos e exigimos permanecer na universidade! Se as instituições não aceitam os nossos corpos dentro dela porque sentem falta da instituição escravista criminosa, NÓS LEMBRAREMOS COMO SE COLOCA FOGO NO ENGENHO!

A empresa SERVIARM, contratada para os serviços de segurança da UFC, é também composta de trabalhadores pretos, da periferia, que reproduzem essas opressões. Assim, EXIGIMOS não só o afastamento imediato dos guardas racistas que foram criminosos com nosso irmão, mas também UM NOVO PROJETO DE SEGURANÇA UNIVERSITÁRIA PAUTADO NOS DIREITOS HUMANOS! A negação de direitos ao povo preto não pode continuar dentro desta instituição! HÁ ANOS, SÃO VÁRIAS AS DENÚNCIAS DE PRÁTICAS DE RACISMO E HOMO/TRANSFOBIA! A Universidade Federal do Ceará deve oferecer ferramentas de conhecimento aos seus trabalhadores, pois é construída sobre o pilar do Ensino, Pesquisa e Extensão! Além disso, EXIGIMOS retratação pública desta universidade sobre o caso, o acompanhamento do estudante em todas as medidas jurídicas necessárias o comprometimento com uma educação anti-racista!

Estudantes pretos e pretas do Centro de Humanidades, em especial do curso de História, já encaminharam medidas para a Diretoria do Centro de Humanidades exigindo formação humanizada dos trabalhadores da empresa SERVIARM, mas até agora não tivemos retorno. NÃO VAMOS ACEITAR QUE ESTUDANTES NEGROS SEJAM HUMILHADOS DENTRO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ! Racismo é crime e, para além disso, a universidade pública precisa se comprometer com a pluralidade étnica, de gênero e sexualidade que existe no seu corpo discente e docente! FOGO NOS RACISTAS!

Assinam esta nota

Centro Acadêmico Frei Tito de Alencar
Programa de Educação Tutorial (PET)/História UFC
Núcleo de Estudos sobre Memória e Conflitos Territoriais (COMTER)/História UFC
Centro Acadêmico de História Caldeirão – UECE
Centro Acadêmico de História Ágora – UVA
Programa Residência Pedagógica núcleo História – UFC
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) História e Ciências Sociais/UFC
Laboratório de Arte Contemporânea – LAC
Centro Acadêmico Eng. Civil – CAEC UFC
Centro Acadêmico de Matemática/UECE
Fórum em Defesa do Ensino e dos(das) Professores(as) de História
Centro Acadêmico Dias da Rocha/Agronomia UFC
Diretório Acadêmico XVIII de Junho/Química UFC
Centro Acadêmico Elon Lages de Lima/Matemática UFC
Federação do Movimento Estudantil de História/FEMEH
Centro Acadêmico Batista Neto/Ciências Sociais UFC
Centro Acadêmico Ana Neri/Enfermagem UECE
Coletivo Negrada
Projeto de Extensão Cine Descoberta/Letras UFC
Afronte
Centro Acadêmico Wládia Torres/Teatro IFCE
Unidade Classista
UBUNTUECE
UNEGRO/CE
Coletivo Paulo Freire/UECE
Centro Acadêmico de Filosofia Manfredo Oliveira/UFC
Centro Acadêmico de Geografia/UECE
Movimento Negro Unificado
Coletivo Nacional de Juventude Negra/ENEGRECER
Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígena/IFCE
O Instituto Negra do Ceará/INEGRA
DCE José Montenegro de Lima/IFCE
Projeto Novo Vestibular/PNV
Movimento Piracema