Por Júlia Paschoalino Robert

A entrada do breaking no programa olímpico motivou novas e diversas visões sobre a modalidade entre seus praticantes. Por um lado, a estreia do esporte nas Olimpíadas permite que ele seja pautado na grande mídia, o que pode trazer reconhecimento e prestígio. Já por outro, há uma preocupação com uma possível descaracterização do breaking a partir de sua aparição nos Jogos.

O breaking é um dos pilares do movimento hip-hop e sua origem está associada à cultura das ruas. Junto do rap, do grafite e dos MCs (mestre de cerimônia), a prática surgiu em Nova York nos anos 1970, como uma forma de expressão para a juventude negra e latina que encarava questões econômicas e sociais.

No Brasil, a notícia de que a modalidade poderia se tornar um esporte olímpico começou a circular por volta de 2015, com a criação da Federação Paulista de Breaking. “A cena não entendeu muito bem. Nossa maior preocupação, no começo, foi não perder as características que dão origem à dança breaking.”, conta Uiu MC, b-boy e apresentador, em entrevista à NINJA Esporte Clube.

Para os praticantes, o movimento hip-hop é um estilo de vida, com valores e princípios que precisam ser preservados. Por isso, o receio de que a modalidade possa ser descaracterizada a partir das competições olímpicas. “A cultura hip-hop é uma cultura estabelecida há 50 anos. A gente sempre está buscando manter essa essência e trazer isso também para os eventos competitivos, que são uma parte importante da nossa cultura”, afirma Victória Gato, produtora cultural e apresentadora do podcast Conexão Breaking, em entrevista à NINJA Esporte Clube.

Com a confirmação do breaking nos Jogos de Paris 2024, o esporte começou a circular na grande mídia. Jéssika Andrade, b-girl da seleção brasileira, confia que estar nas Olimpíadas pode ajudar a trazer mais reconhecimento para a modalidade. “Eu acredito que essa visibilidade é algo muito positivo e que toda a comunidade hip-hop pode lucrar de alguma forma”, afirma, em entrevista à NINJA Esporte Clube. O que se espera é um fenômeno parecido com o que aconteceu com o skate, que se popularizou após sua estreia nos Jogos de Tóquio em 2020.

Além da visibilidade, a introdução do breaking nos jogos olímpicos fez surgir uma nova visão da modalidade entre seus praticantes, porque agora, além de dança, o breaking também é considerado esporte. “Como sempre foi muito cultural, a gente não entendia que precisava dessa condição física para ter um desempenho maior, ser um atleta de alto rendimento”, explica Uiu MC.

É certo que os dois olhares, tanto o da arte quanto o do esporte, contribuem muito para a modalidade. “O breaking não vai deixar de ser dança só porque entrou no movimento olímpico, pelo contrário. Ele precisa desse viés artístico para a gente se encontrar como dançarino, dessa criatividade”, afirma Jéssika.

Por fim, a estreia da modalidade nas Olimpíadas traz destaque também para a potência do que o movimento hip-hop representa na sociedade. “Quando a gente fala que transforma vidas ou que salva, é que de fato salva. A gente vem de uma realidade muito difícil e quando a gente vê o breaking nesse patamar e entende que pode alcançar a vida de muitas pessoas, isso traz muito mais confiança,” completa Victória.

Nos Jogos de Paris, as competições de breaking acontecerão nos dias 9 e 10 de agosto, no Parque Urbano La Concorde. Serão 32 atletas, 16 na categoria masculina e 16 na feminina, se enfrentando em batalhas até chegar à final. Um painel de juízes fará a avaliação das apresentações de acordo com três critérios: físico, artístico e interpretação. O Brasil não classificou atletas para a modalidade.