Estreia da Copa no dia da Consciência Negra reforça debate sobre racismo no futebol
Atletas brasileiros se engajam na luta antirracista, mas legislação para coibir racismo no futebol precisa ser reanalisada
Por Kamily Rodrigues e Naathy Medina
Em uma convergência extremamente importante, a Copa do Mundo 2022 terá o seu apito inicial no mesmo dia da Consciência Negra. Hoje, 20 de Novembro. Ao longo da história da Seleção Brasileira, atletas negros como Pelé e Jairzinho estiveram entre os grandes protagonistas responsáveis pelos títulos conquistados.
Mas apesar de toda dedicação e talento, jogadores que já integraram a seleção e os que fazem parte atualmente, ainda sofrem com a discriminação racial e com práticas recorrentes de intolerância, tanto dentro quanto fora de campo. Neste Mundial, com mais da metade dos jogadores convocados sendo negros, a seleção brasileira segue numa luta antirracista.
Segundo dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, 64 denúncias foram registradas em 2021. Este ano, Richarlison teve uma banana arremessada em sua direção ao comemorar o gol marcado na partida do Brasil com a Tunísia.
Outro exemplo é Vinícius Jr, que chega para a sua primeira Copa. O craque do Real Madrid, enfrentou e enfrenta inúmeros ataques racistas, dentro e fora de campo. Ele foi chamado de macaco por torcedores do Atlético de Madrid após o empresário Pedro Bravo falar em um programa de televisão que ele deveria parar de “fazer macaquices”. Estes estão entre os atletas que mais sofreram ataques racistas somente em 2022.
Na comemoração de Richarlison, foi arremessada uma banana em direção ao jogador da seleção brasileira. @s1_live pic.twitter.com/6zjC4OVZto
— Isabelle Costa (@bellexcosta) September 27, 2022
Posicionamento antirracista
Após o ocorrido no jogo do Brasil com a Tunísica, Richarlison afirmou em suas redes sociais que “enquanto ficarem de blá blá blá e não punirem, vai continuar assim, acontecendo todos os dias e por todos os cantos. Sem tempo, irmão! #racismonão”.
Vinícius Jr. também se pronunciou após o ataque sofrido “Dizem que felicidade incomoda. A felicidade de um preto brasileiro, vitorioso na Europa, incomoda muito mais. Mas a minha vontade de vencer, meu sorriso, meu brilho nos olhos são muito maiores do que isso. Fui vítima de xenofobia e racismo numa só declaração. Mas nada disso começou ontem”, declarou em vídeo postado em suas redes sociais.
https://twitter.com/vinijr/status/1570893793028874240
O que diz a lei?
Atualmente, existe o projeto da Lei Geral do Esporte (PL 1.153/2019), do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). O texto foi aprovado em junho no Senado, mas sofreu alterações ao passar pela Câmara. Após esta etapa, é preciso que a lei passe por uma nova análise, que deve ser realizada pelos senadores.
A Lei Geral do Esporte altera a Lei Pelé, que institui normas gerais sobre desporto e prevê outras providências. Com a mudança, dispositivos relacionados aos atletas de base também serão incluídos.
No novo relatório apresentado este ano, o relator Roberto Rocha (PSDB-MA) acatou parte de 61 emendas que foram apresentadas. Uma delas prevê que as torcidas organizadas que pratiquem condutas racistas, e também xenófobas, homofóbicas ou transfóbicas, ficarão impedidas de comparecer a eventos esportivos por até cinco anos. O mesmo vale para integrantes e associados desses coletivos.
A medida foi sugerida pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES). As condutas incluem “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, ou entoar cânticos que atentem contra a dignidade da pessoa humana, especialmente de caráter racista, homofóbico, sexista ou xenófobo”.
O senador Paulo Paim (PT-RS), autor do Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 2010 pelo então presidente Lula, na ocasião da Copa do Mundo, afirmou esperar que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) promova ações de combate ao racismo.
“O Brasil é a única seleção a ter jogado em todas as competições e é o maior campeão com cinco títulos mundiais. A Copa do Mundo é um evento extraordinário que consegue reunir pessoas das diversas nacionalidades, cores, raças, religiões, orientação sexual, socioeconômica, idade e outras, em prol do amor pelo esporte, o futebol”, disse. “Mas, apesar de tanta união e emoção ao redor desse belo evento, nos deparamos com os crimes de racismo”.
Com informações da Agência Senado
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube